Depois de perder o celular na balada e ganhar a fama por conta de fotos picantes, Dulce Paina radicalizou e agora tenta, aparentemente com todas as forças, deixar no passado a vida de garota de programa para se dedicar à igreja evangélica. Mas a luta não é fácil, a clientela continua animada, como uma tentação, reclama a moça que ainda recebe por dia mais de 8 mil mensagens no WhatsApp, a maioria “indecente”.
Vale dizer que ela nem queria falar, mas a mensagem de o quanto as pessoas gostam de se meter na vida dos outros, na nossa opinião, justifica um espaço novamente no Lado B.
“Teve um cara que me ofereceu R$ 15 mil por uma noite”, conta, depois de postar inúmeras vezes desabafos nas redes sociais do tipo: "Todo dia o pecado vem me chama. Todo dia as propostas vem, me chamam. Todo dia vem as tentações, me chamam. Todo dia o pecado vem... "
Ela nunca foi de meias palavras, por isso não nega que adora a vida de “famosa”, mas garante que isso tudo não tem mais lugar na história que resolveu escrever desde o dia 31 de outubro, quando anunciou para o mundo que não faria mais programas a partir daquela data. “Ganhar muito dinheiro, ser reconhecida na balada, tudo isso massageia o ego. Não é coisa fácil de abandonar, mas sou determinada e vou conseguir”, comenta.
Depois de abandonar a carreira "promissora", ela se ofereceu para novos projetos pelas redes sociais, evidenciando a experiência no comércio, voltou a estudar, mas continua só com a loja que já mantinha na Coophavilla 2.
"O que atrapalha é o desrespeito", protesta sobre o assédio de ex-clientes e a mania de muitos desocupados em se importar com a vida alheia. Ontem, por exemplo, cópias de entrevista de Dulci, dos tempos que era garota de programa, foram espalhadas pelo bairro onde ela mora e até na escola da sobrinha. “Não sinto raiva de ninguém, só tristeza dos valores e da sociedade tão hipócrita.”
Ela é como uma celebridade entre os homens de Campo Grande. Milhares receberam pelo celular fotos e mensagens sensuais da ex-garota de programa que cobrava R$ 300,00 por hora e diz ter alcançado uma renda de R$ 20 mil ao mês. “Quando o Campo Grande News fez reportagem, cheguei a receber 17 mil mensagens em um dia no celular, mais de 100 ligações diárias. Pra você ver como as coisas ilícitas dão muito mais dinheiro que as lícitas”, contabiliza.
Agora, tem de se contentar com a renda da loja de roupas masculinas e a perturbação por celular e internet. “Não deixei a profissão por preconceito. Adorava o que fazia. Era eu que escolhia com quem iria sair, eles me tratavam como princesa e ainda ganhava muito dinheiro. Mas Deus me chamou. Entendi que o que as pessoas precisam não é de sexo e sim de amor”, reforça.
Cópias de reportagem distribuídas na região onde Dulci mora.
Há 15 dias ela jura que não faz sexo. Abriu mão do que “Deus não tolera” e avisa que agora só vai se entregar a um homem novamente depois do casamento. “Sexo antes do casamento é pecado, não é do agrado de Deus. Não foi eu que coloquei isso, foi Deus, então vou respeitar”, promete.
Mas como é complicado convencer os outros, algumas pessoas também vão sendo excluídas. “Estava ficando com um guri há 2 meses e perguntei se ele ficaria comigo sem sexo. Ele disse que não. Tive de abrir mão dele por causa disso”.
A principio, a ideia era deixar os encontros no dia 31 de dezembro, mas Dulci diz que recebeu o “chamado de Deus” antes, pela boca de um cliente e no auge dos convites. “Ele disse que era para eu ver como eu era bonita e que não era aquela vida que Deus queria pra mim”. Dias depois, lá estava ela em uma celebração da igreja Sara Nossa Terra.
Desde então, se adaptar não tem sido nada fácil. No Facebook, passou a postar mensagens religiosas, mas sempre há um engraçadinho pronto para “esculhambar”, reclama. “Um entrou e disse que nunca tinha visto uma crente mostrando o decote no Facebook”, lembra.
As fotos sensuais continuam na rede, mas diante da crítica, ela resolveu providenciar roupas novas “de uma mulher que não precisa ficar se expondo”.
Dia desses, também teve problemas depois de ajudar a irmã na lanchonete da família. “Eu estava de garçonete e me marcaram no face dizendo que eu estava curtindo um pagodinho. Já avisei que não vou mais poder ajudar lá”.
Dulci diz que ainda não se importa com que as pessoas pensam ou falam dela, mas toma esse tipo de atitude por respeito à igreja. “Nunca me importei. Agora que Deus está do meu lado, muito menos. Mas não quero que coloquem em dúvida a igreja”, justifica.
A principal chateação são as criticas independente do lado que Dulci escolha. “Se faço programa reclamam, se viro evangélica também me criticam. Na realidade as pessoas só querem falar, independente, da escolha”.
Apesar de recusar as ofertas dos homens, ela continua defendendo respeito a quem sobrevive do sexo. “Sempre fui privilegiada, mas muitas das meninas que fazem programa apanham dos maridos em casa, trabalham por que precisam.”
Mês passado, em Ponta Porã, ela encontrou uma realidade que a deixou indignada. “Tem muita menina lá que faz programa para ter drogas. A sociedade vira as contas para garotas. A fronteira é lugar onde filho chora e mãe não vê”.
Sobre o futuro, ela não fala mais de nenhum projeto que não seja "Deus" e pede a colaboração do homens. "Eu não quero trocar o meu celular, por que tenho esse número desde que cheguei em Campo Grande, mas vou ter de fazer isso se não pararem de me ligar. Quero seguir minha vida".
A entrevista só termina quando o pastor chega a casa de Dulci, onde nesta semana foi criada uma célula da Sara Nossa Terra.
Fonte: Lado B