Rio - Para quem achou que o ex-prefeito do Rio, Cesar Maia (DEM), iria ficar quieto no canto dele, assistindo aos ataques que dissidentes do DEM lhe fizeram ao partir da legenda recentemente, uma notícia: o homem está com a corda toda, pilotando a política regional de seu bunker, na Zona Sul, onde se protege do mau olhado com uma coruja engaiolada logo na entrada do escritório. Em entrevista exclusiva a O DIA, o homem que já foi chamado de “Prefeito Maluquinho” deixa claro que está em plena articulação para as eleições de 2012. E está certo de que o jeito de consolidar um bloco de oposição para fazer frente à candidatura à reeleição do prefeito Eduardo Paes (um de seus ex-pupilos, aliás) e sair conquistando prefeituras pelo estado é unir seu partido ao PR de Garotinho – os dois já tiveram uma conversa “sobre conjuntura” – e, se tudo der certo, ao PSDB.
O DIA: Recentemente, três ex-aliados seus (Indio da Costa, Solange Amaral e Paulo Cerri) deixaram o DEM. O que aconteceu?CESAR MAIA: – Nada. Acontece um movimento na margem — os economistas chamam de “marginal”, mas a palavra tem duplo sentido — de pessoas que sentem riscos futuros se ficarem na oposição e querem ficar no governo. Todos estiveram no poder 16 anos. [O grupo acompanhou Maia durante seus três mandatos e o de Luiz Paulo Conde, seu sucessor na Prefeitura do Rio, que também rompeu com ele, em 1999].
E por que foram feitos ataques ao senhor, descrito como centralizador?Precisavam de justificativa.
E por que foram feitos ataques ao senhor, descrito como centralizador?Precisavam de justificativa.
Por que esses ataques só vieram agora?Nós só perdemos eleição agora. [Maia e os três ex-aliados não foram eleitos em 2010].
O senhor hoje é presidente do diretório municipal do DEM do Rio, cargo que era ocupado por Paulo Cerri. Houve intervenção?Não. Há um mês, ele disse: “Cesar, eu sou um político que tem uma base de votos em torno de 10 mil. Não vou conseguir me eleger num partido grande. Não vou poder continuar no DEM.” O Cerri era presidente do diretório municipal e eu, vice-presidente. Comuniquei ao Rodrigo [Maia, seu filho], que era presidente do partido, e depois ao José Agripino [Maia, seu primo, atual presidente do DEM]. Eu disse: o presidente está saindo, vou assumir. O José Agripino disse: “Vai lá e assume”. Depois, o Cerri entregou carta de demissão e de desfiliação.
O senhor se coloca como oposição ao prefeito Eduardo Paes, outro ex-aliado seu. Que críticas o senhor faz à sua administração?Ele comete dois equívocos que vão lhe custar a eleição de 2012. Primeiro, persegue os servidores. São medidas generalizadas e sistemáticas. Está tirando benefícios, reduzindo gratificações mínimas e por aí vai. Estamos falando de 200 mil pessoas — ativas, inativas e pensionistas.
E o segundo “equívoco”?Ele humilha os pobres. Você tem que ter uma política de lei e ordem, ninguém vai me ensinar isso. Fiz isso em todos os meus governos. Agora, não precisa humilhar a pessoa que tem um barraco que tem que ser retirado por razões de segurança, expor e desmoralizar uma criança chorando. Se pegar estatísticas do que nós fizemos na prefeitura e do que ele está fazendo, não está fazendo mais do que nós. Mas eu nunca humilhei ninguém.
O eleitor percebe isso?Pergunta ao comércio, pergunta aos servidores. Eu estava numa conversa com o Garotinho na semana passada...
Conversa com Garotinho?Estávamos conversando sobre conjuntura. Estávamos nós, a Clarissa [Garotinho, filha do ex-governador] e o Rodrigo. Eu perguntei: Garotinho, você sabe por que você teve essa votação na Zona Oeste, em locais onde eu fiz obras ‘barba, cabelo e bigode’? Ele disse que não. Eu sei. Eu sei porque, depois de cada eleição, eu faço pesquisa. Lá, os eleitores pensaram: “Eu preciso de um político que defenda minha família, que evite que meu filho entre nas drogas. Não quero que minha filha faça aborto.” São evangélicos, né?
Conversa com Garotinho?Estávamos conversando sobre conjuntura. Estávamos nós, a Clarissa [Garotinho, filha do ex-governador] e o Rodrigo. Eu perguntei: Garotinho, você sabe por que você teve essa votação na Zona Oeste, em locais onde eu fiz obras ‘barba, cabelo e bigode’? Ele disse que não. Eu sei. Eu sei porque, depois de cada eleição, eu faço pesquisa. Lá, os eleitores pensaram: “Eu preciso de um político que defenda minha família, que evite que meu filho entre nas drogas. Não quero que minha filha faça aborto.” São evangélicos, né?
O que isso quer dizer?Quer dizer que os valores se sobrepoem às realizações pontuais. Não é um asfalto que vai dar o voto se, junto com esse asfalto, não vier alguém que ele diz “me representa, está comigo”. Ninguém vai tirar o asfalto no dia seguinte. O que o eleitor teme é que venha alguém que não corresponda a seus valores.
Então, o voto evangélico fez a diferença em 2010? A força do voto evangélico foi a maior na cidade do Rio, na Baixada e em São Gonçalo.
Por isso essa aproximação com Garotinho?Ninguém vai fechar nada a essa altura. Agora, quais os partidos que hoje fazem oposição no Estado do Rio ao PMDB? O PSDB, o DEM e o PR. Eles estão conversando. Há possibilidade de esses partidos neste município, naquele outro município, estarem juntos? Então, é um mapa onde você bota todos os municípios e cada um vai botando um alfinete. O PR e o DEM começaram esta conversa. Agora, vão ter uma conversa com o PSDB.
Quem concorreria a prefeito: Clarissa ou Rodrigo?Eu não sei. Não botei termômetro ainda.
E o senhor?Em política, não tem esse negócio de “não serei...”. Mas eu te digo o seguinte: toda eleição em que participei no Rio, tirando a de 2004, eu tive 20%. Eu devo vir candidato a prefeito com 20% dos votos na capital? Acho que não. Se eu tiver uma capacidade de transferência, que vá o Rodrigo ou um nome qualquer do DEM.
Fonte: o Dia Online
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