Além da dor de perder o marido de forma brutal, mulher não tem para onde ir com seis filhos
POR FRANCISCO EDSON ALVES
Rio - Além de enfrentar a dor pela morte do diácono da Assembleia de Deus Ministério Palavra da Vida, Alexandro Lima, 37 anos, a família do evangélico está ameaçada de morte pelos traficantes que praticaram o crime, por volta das 6h30 de sábado.
O religioso é uma das vítimas da chacina no Parque de Gericinó. Humilhados, parentes revelam que, desde quando ocorreram as mortes, os traficantes ligam e mandam recados por jovens, com o aviso: “O terror ainda não acabou”.
“Dizem que, se nós não ficarmos calados, vão matar o resto da família. Estamos apavorados”, desabafa a mulher do diácono, X., 36 anos, que mora com seis filhos.
Segundo a viúva — que havia deixado a Rádio Louvor sintonizada para o marido ouvir na caminhada que fazia habitualmente —, assim que soube da morte do diácono, ligou para o celular dele. Um bandido atendeu, negou que soubesse do paradeiro dele e impediu que moradores fossem procurá-lo.
“Pouco depois, liguei novamente e implorei: 'Você tem pai, você tem mãe, você tem filho, você tem alguém que você ame? Eu te peço, em nome de Jesus, que você devolva o corpo'. O traficante disse que o cadáver estava à beira do rio, onde ele foi encontrado”, detalhou X.
Tiro de fuzil nas costas
Relatos de testemunhas indicam que Alexandro teria tentado impedir que José Aldecir da Silva Júnior, 19 anos, fosse morto, mas um bandido disparou um tiro de fuzil do alto de uma cabine abandonada do Exército, atingindo suas costas. O corpo de Júnior foi encontrado nesta quinta-feira.
De casa, um vizinho diz ter visto quando traficante gritou para Alexandro: “Para aí! Levanta a blusa! Levanta a blusa!”. Para a mulher, Alexandre não atendeu porque estava com fone no ouvido e não escutou a ordem do bandido. O diácono foi baleado a 300 metros de casa.
Solidário com os mais necessitados
Alexandro Lima e um amigo fundaram a Assembleia de Deus Ministério Palavra da Vida há dois anos. “Através da igreja, que tem pouco mais de 30 membros, ele fazia caridade. Angariava roupas, remédios e alimentos para os necessitados”, lembra X., que era casada havia 20 anos com o diácono.
Alexandro trabalhava como auxiliar de serviços gerais numa empresa que presta serviços para a Fundação Leão XIII. “Ele sempre foi bom pai, amigo, conselheiro. Apesar do pouco estudo, era profundo conhecedor da Bíblia”, descreveu.
Bando usa até uma guarita abandonada
Vizinhos ao Parque Natural de Gericinó, em Mesquita, denunciam que a ousadia dos criminosos é tanta que eles chegaram a tomar guarita abandonada pelo Exército.
Há informações de que bandidos ainda ocupavam o lugar na segunda-feira, dois dias após as mortes. Moradores denunciam que são reféns há anos de traficantes da facção criminosa Comando Vermelho.
“A maior parte das famílias é obrigada a dar R$ 10 por mês à quadrilha, que, desde a criação da UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) no Rio, só vem aumentando”, se queixou um morador de 53 anos.
Fonte: O Dia
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