Após anos de desentendimentos públicos, a comunidade evangélica está menos incisiva quando se trata da homossexualidade. A tendência é que continue crescendo uma atitude de maior tolerância.
Pesquisadores da Universidade Baylor fizeram um estudo para identificar o que mudou. Os dados preliminares indicam que 24% dos evangélicos dizem ser “flexíveis”, ou seja embora opõem-se moralmente ao homossexualismo, já reconhecem o direito de gays terem seus relacionamentos reconhecidos legalmente.
Lydia Bean, professora de sociologia da Baylor e co-autora do estudo afirma: “Está aumentando o número de pessoas que dizem publicamente: “Embora seja evangélico, eu não quero fazer parte desse movimento antigay”.
O estudo recebeu o título de “How the Messy Middle Finds a Voice: Evangelicals and Structured Ambivalence towards Gays and Lesbians” [Como os grupos neutros expressam sua voz: Evangélicos e sua ambivalência em relação a gays e lésbicas] e analisou dados de uma pesquisa nacional sobre religião, conduzida pelo Instituto Gallup.
Os dados completos da pesquisa foram apresentados este mês, durante o encontro anual da Associação Norte-Americana de Sociologia, realizado em Nova York.
O objetivo era analisar os chamados “evangélicos ambivalentes”, aqueles que se opõem à prática sexual, mas não veem problemas na união civil. Enquanto pelo menos 41% dos evangélicos são “opositores convictos dos direitos dos homossexuais”. No outro extremo estão 35% dos chamados “Progressistas Culturais”, que não se opõe abertamente ao movimento LGBT.
Usando um termo da sociologia, Bean e Brandon Martinez, o outro autor do estudo, dizem que “ambivalência” implica no “ocorrência simultânea de pontos de vista contraditórios, que podem ser influenciados por instituições sociais, como família, religião e trabalho, enquanto os indivíduos se esforçam para suprir as expectativas em relação a eles”.
Mais que uma questão cultural, o que está em jogo é a perspectiva teológica de suas igrejas. A doutora Bean acredita que esse grupo tende a crescer pois não deseja ser rotulado de homofóbico, nem ser identificado com os grupos radicais, que sofrem mais rejeição da sociedade.
Entre os exemplos citados estão igrejas influentes, como a Saddleback, pastoreada por Rick Warren, que expressou publicamente seu apoio à proibição do casamento gay e depois lamentou ter feito tais declarações. O pastor Joel Osteen, que lidera a maior igreja evangélica dos EUA, não soube dizer durante uma entrevista a um importante programa de TV se os gays iriam para o inferno ou não.
Bean e Martinez são enfáticos: “Quando os líderes se tornam ambivalentes em relação a questões como os gays, o aborto e a religião muçulmana, eles influenciam todas as pessoas que os ouvem a pensar da mesma forma”. Em especial por que eles vendem milhões de livros no mundo todo. Além disso, esses temas inevitavelmente passam por debates políticos e aprovações de novas leis.
Tom Krattenmaker, autor de um livro sobre cristianismo e homossexualidade, diz que o caminho a ser seguido pelos evangélicos daqui para a frente deve seguir a máxima: “menos medo, mais amor ao próximo”.
Um estudo recente de outro instituto cristão, o Pew Research Center mostra que 73% dos membros adultos do movimento LGBT disse que consideram as igrejas evangélicas “hostis” em relação a eles, enquanto apenas 3% as consideraram “amigáveis”. Cerca de 21% classificou as igrejas como “neutras”.
Embora não exista um estudo similar no Brasil, as diferenças de opinião mostrada pelos diferentes grupos evangélicos desde a indicação do pastor Marco Feliciano para presidir a Comissão de Direitos humanos da Câmara do Deputados nos mostra que a tendência é similar em nosso país.
Com informações Washington Post e Christian Post.
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