Com 8,5 quilos a menos depois de 21 dias de jejum completados hoje, o bispo de Barra (BA), d. Luiz Flávio Cappio, apresenta debilidade física, não dá declarações nem atende o telefone, mas se mantém lúcido e trabalha nos bastidores em busca de uma saída que assegure que não haverá transposição das águas do Rio São Francisco. No fim da tarde de hoje, o coordenador da Comissão Pastoral da Terra (CPT) Rubem Siqueira divulgou a proposta de d. Cappio, com o objetivo de sustentar uma negociação com o governo federal por meio do chefe do Gabinete Pessoal da Presidência da República, Gilberto Carvalho.

A proposição não fala em arquivamento definitivo da suspensão das obras da transposição iniciadas, mas, em contrapartida, acrescenta sete itens que, se aceitos, excluem a possibilidade de "uma grande obra hídrica que concentre recursos, poder e uso intensivo das águas do São Francisco", avaliou Siqueira. A idéia admite, entre outras questões, que se leve água para consumo urbano a Pernambuco e à Paraíba, que detêm grandes déficits hídricos, e o apoio ao Poder Executivo federal na introdução, ampliação e difusão de tecnologias de captação, armazenamento e manejo de água para a população rural e agropecuária.

"Estou muito firme no espírito e em paz", afirmou o bispo de Barra, enquanto cumprimentava um a um os romeiros que fizeram fila para receber a bênção, no lado externo da Igreja de São Francisco, em Sobradinho (BA), onde ele, que tem 61anos, iniciou a greve de fome na manhã do dia 27, pesando 72,5 quilos. Hoje, estava com 64 quilos.

Mesmo com sinais vitais, funções fisiológicas e estado mental normais, os exames laboratoriais apontaram o valor de creatinina alterado, de acordo com o boletim médico divulgado pelo médico clínico-geral que o acompanha, Klaus Finkam. A creatinina é um dos parâmetros da função renal. A alteração exige observação, segundo Finkam, mas, por enquanto, não é preocupante. "Não significa ainda um problema renal", afirmou. "Vai depender do desenvolvimento daqui para a frente."

Compromisso

Em mais um termo de compromisso de responsabilidade assinado hoje com o médico, d. Cappio renovou a disposição de continuar o jejum, assumindo todas as conseqüências do ato. Ele está disposto a morrer, se necessário. Ninguém que o acompanha duvida disso. No entanto, a avaliação que se faz entre os parentes e movimentos sociais que se agregaram em torno da liderança de d. Cappio e viram as reivindicações dele fortalecidas é que ele tem prestado uma grande contribuição aos "pobres e oprimidos". "Existe o antes e o depois de Luiz Flávio", afirmou o irmão dele João Franco Cappio.

Por d. Cappio não estar desidratado, Finkam suspendeu o soro fisiológico que lhe era administrado. Ontem, d. Cappio voltou a ingerir apenas água. Os romeiros, desta vez de Petrolina - no lado pernambucano do Rio São Francisco, a 50 quilômetros de Sobradinho -, que chegaram cedo em caravana formada por cinco ônibus, vans e carros de passeio, lotaram a nave da igreja para cantar e rezar, sob a coordenação do bispo da cidade, d. Paulo Cardoso. Eram cerca de 400 fiéis. O bispo de Barra não participou.

D. Cappio descansou na sacristia. O bispo voltou a aparecer no fim da tarde, quando outros fiéis começaram a chegar para a missa da noite quando, ao final, ele abençoa a todos. Solidários com a luta, muitos fazem abstinência parcial de alimentação em apoio a d. Cappio. Carlinda Maria de Jesus, de 71 anos, viúva, faz uma refeição, à noite, desde sábado. Maria Auxiliadora dos Santos, de 53, prefere comer - "bem pouquinho" - na hora do almoço. "Se essa transposição for feita, o rio vai morrer e todo mundo que depende dele", afirmou Carlinda.

"A gente ora para que o presidente Lula escute o bispo, queremos ele (d. Cappio) vivo e o rio revitalizado", resumiu Maia Neuma Alencar Siqueira, que não faz jejum, mas está, integralmente, solidária com a causa do bispo. "Nosso desejo é que o governo ceda, não deixe o bispo morrer e nem o que ele representa", complementou a freira salesiana Maria Araújo da Silva. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem sido alvo de críticas e decepção dos contrários à transposição. "O governo tem sido intransigente, não o meu irmão", diz Franco Cappio, de 71 anos, que, com as irmãs Rita e Rosa Maria, acompanha e aprova a luta de d. Cappio.

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Eginoaldo

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