FÁBIO GUIBU
da Agência Folha, em Sobradinho

O bispo de Barra (BA), d. Luiz Flávio Cappio, 61, negou ontem que esteja negociando com o governo o fim da sua greve de fome, que completa hoje 21 dias. Confirmou ter recebido propostas nesse sentido do chefe-de-gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, mas as considerou "indecorosas".

O contato telefônico entre Cappio e Carvalho, na noite de sábado, foi intermediado pelo padre de Lins (SP) Oscar Beoso. Segundo os assessores do bispo, Beoso não tem ligação com d. Luiz e agiu por conta própria, sem aviso prévio.

Carvalho, segundo os assessores, propôs "esforços do governo" para a aprovação, pelo Congresso, da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que destina R$ 250 milhões anuais à revitalização do rio São Francisco, além da aceleração do programa de construção de um milhão de cisternas no semi-árido nordestino.

D. Luiz recusou a proposta, mas avisou o representante do governo que consultaria seus assessores. Na mesma noite, um deles, Rubem Fonseca, telefonou para Carvalho reafirmando que não haveria negociação nos termos propostos.

Cappio e seu grupo lembraram que a promessa de "esforço do governo" para a aprovação da PEC já havia sido feita dois anos atrás, na primeira greve de fome do religioso, e não foi cumprida. Sobre o programa de cisternas, dizem que o projeto tem sete anos e que, até agora, apenas 200 mil delas foram construídas no sertão.

Cappio condiciona o fim da greve de fome ao arquivamento do projeto da transposição e à retirada de tropas do Exército do canteiro de obras. Os trabalhos foram paralisados na quinta-feira, por força de liminar concedida pela Justiça Federal. O bispo, porém, considera a decisão "frágil" e mantém o jejum.

Procurado por telefone, o padre Oscar Beoso não foi encontrado para comentar o caso.

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