Católicos e evangélicos fizeram um último esforço ontem para evitar a aprovação do casamento homossexual na República Argentina. O projeto que altera o Código Civil para possibilitar que homossexuais possam se casar será votado no Senado nesta quarta-feira. Se aprovada, a Argentina será o primeiro país na América do Sul a possibilitar uma união matrimonial além da relação homem e mulher.

Nesta terça-feira, a marcha "As crianças têm direito a mamãe e papai", idealizada por organizações ligadas à Igreja, reuniu milhares de pessoas em frente ao Palácio do Congresso da Nação, em Buenos Aires. No discurso das lideranças religiosas presentes no ato público, novos ataques foram lançados contra o governo kirchnerista e seus aliados.

"É fundamental que nossos representantes políticos protejam o matrimônio entre o homem e a mulher para a procriação, que é a lei natural", disse o diretor executivo do Departamento de Laicos da Conferência Episcopal Argentina (DEPLAI), Justo Carbajales, antes de discursar para a multidão.

No palco, Carbajales negou que o movimento cristão discrimina os homossexuais e repetiu parte do discurso dogmático orientado pela Conferência Episcopal Argentina. "Somos seres sexuados, genetica e biologicamente determinados como mulheres e homens", concluiu, ao dizer que nenhum "movimento cultural" 0 no caso, os grupos GLBTs - "pode desconhecer o que é uma verdade essencial".

O protesto foi o ápice da ação idealizada durante a 99° Assembleia Plenária do Episcopado Argentino, em abril, em resposta à mobilização do governo em conseguir a aprovação da matéria. No domingo, o cardeal primado e presidente da Conferência Episcopal Argentina, Jorge Bergoglio, chegou a dizer em carta às igrejas e paróquias que o casamento homossexual pretender "destruir o plano de Deus".

Ontem, a ação do clero entrou em uma nova fase. O diretor da Aliança Cristã de Igrejas Evangélicas da Argentina (ACIERA) pediu que os fiéis fiscalizem à posição dos senadores durante a votação. "A pressão do oficialismo vem violentando a consciência de muitos senadores", afirmou Gastón Bruno.

Os dirigentes religiosos defenderam uma campanha nacional para que se evite votar nos políticos favoráveis ao casamento homossexual nas eleições nacionais marcadas para 2011. "Não devemos votar naqueles que se ausentarem ou se abstiverem (da votação), ou que estiverem na China para evitar o pleito", referiu-se Bruno aos senadores que acompanham a presidente Cristina Kirchner.

"Ataque ao oficialismo"
Se por um lado a Igreja endureceu politicamente o coro contra o apoio do governo kirchnerista ao projeto, o público presente pediu a manutenção da familia. "Eu vim aqui para garantir a união entre o homem e a mulher como o verdadeiro matrimônio", disse o encanador Marcelo Sosa, 47 anos, que contou não criticar a vida conjugal entre homossexuais desde que "não se chame casamento".

A professora universitária Susana Di Bella, 65 anos, defendeu que é livre a manifestação sexual na Argentina, mas que o casamento gay não pode ser encarado como familia. "Como se vai falar sobre educação sexual?", questionou.

A estudante María de los Ángeles, 17 anos, afirmou ter amigo homossexual e apontou que não é favor que "duas pessoas de um mesmo sexo casem ou adotem um filho porque a criança não tem direito de ser educada sem uma mãe, ou por um pai", destacou. "Os meus filhos eu vou ensinar o que é natural e o que é sano", apontou.

"Não escolhi ser gay"
A ação de resposta promovida pelo Instituto Nacional contra a Discriminação, a Xenofobia e o Racismo (INADI) nesta terça-feira reuniu dezenas em distintos endereços de Buenos Aires. A quantidade de pessoas que participou da ação do INADI, ligado ao governo argentino, não se comparou à multidão de fiéis. Na esquina da avenida 9 de Julho e Corrientes, o pedido era por um país verdadeiramente igualitário.

O estudante Diego Alayza, 19 anos, disse que o casamento gay é importante para ampliar os direitos civis aos filhos da mesma maneira que acontece com as crianças de casais heterossexuais. "Não escolhi ser gay, mas assim que eu sou", defendeu a igualdade o estudante. A estudante Elisa Araya, 22 anos, lamentou que ainda no século XXI pessoas "pensem que homossexualidade é uma doença, algo que se cura".

Mobilização lembra Lei do Divórcio
Em 1987, a Praça do Congresso também foi ocupada por milhares de pessoas ligadas à Igreja Católica para protestar contra a Lei do Casamento Civil e Familia. A legislação ficou conhecida como "Lei do Divórcio". Desde 1985, a Igreja Católica vinha criticando a reforma apresentada pela administração do ex-presidente Raúl Alfonsín. Em junho de 1987, o Senado aprovou a lei.

Fonte: Terra

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Eginoaldo

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