A história de Sansão é bem curtinha na Bíblia, só uns poucos versículos. E a maior parte de sua vida nem é contada. Suas mulheres são igualmente vagas e misterioras. A primeira sequer tem o nome citado. E Dalila é pouco mais que uma cortesã, eufemismo para - outro eufemismo - "a mais antiga das profissões". Por isso mesmo o jovem escritor Gustavo Reiz criou diversos personagens e acontecimentos para preencher os 18 episódios de Sansão e Dalila, da Record, nos quais o super-homem do Antigo Testamento surra e mata seus inimigos filisteus.
Os acréscimos são bem-montados e bastante convicentes, caso da biografia de Dalila, transformada em uma jovem atormentada por um padrasto priápico, em convicente caracterização de Camilo Bevilacqua. E são as atuações o que há de melhor nesta minissérie. A despeito do tom excessivamente arrastado e formal dos diálogos, as interpretações transmitem uma intensidade de sentimentos rara na teledramaturgia brasileira, marcada pelo naturalismo. A Dalila de Mel Lisboa é de uma sensualidade ordinária, sem afetações e muito verdadeira, enquanto o Sansão de Fernando Pavão é entusiasmo e desejo puros.
Sansão traz a força condensada dos grandes mitos, que resumem e exemplificam modelos éticos para a humanidade. Ele representa a força desmedida e descontrolada, o impulso sexual e a violência sem quaisquer freios sociais. Ele é pura pulsão de vida, sem sabedoria e sem transcendência espiritual. Está destinado a ser derrotado por seus desejos carnais. E, por uma mulher, trai o segredo que existe entre ele e o Senhor. Só se redime no último instante, quando se mata e arrasta para morte legiões de filisteus.
As imagens em alta definição ajudam a proporcionar mais do que um espetáculo visual, reforçado pela ótima produção de arte desta minissérie. A força física, a textura da pele, o suor e calor dos corpos amplificam o impacto das interpretações e se ajustam com perfeição a uma história marcada pelo carnal. O HD é mais do que imagem de alta qualidade. É tátil, sensorial.
Pena que a sonoplastia e a trilha não estejam à altura dos atores e das imagens e repitam os mesmos chavões musicais e sonoros de todas as produções televisivas. E, para uma emissora constantemente elogiada pelas tomadas de ação, as batalhas entre filisteus e Sansão chegaram a lembrar A Vida de Brian, comédia debochada do grupo inglês Monty Phyton, em cenas de humor involuntário. Um pouco de ousadia faria bem.
Fonte: Terra
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