GAINESVILLE, EUA — "Acreditamos firmemente que foi Deus quem pediu para que fizéssemos isto". Pistola na cintura, Wayne e Stephanie Sapp não se abalam: apesar dos protestos no mundo inteiro, no próximo sábado sua igreja evangélica ateará fogo, como previsto, em vários exemplares do Alcorão.

Wayne, pastor adjunto da igreja Dove World Outreach Center de Gainesville, na Flórida, escutou muito bem o general David Petraeus, chefe dos soldados americanos no Afeganistão, dizer que as ações do pequeno grupo religioso colocavam em perigo a vida de milhares de pessoas.

Escutou as condenações de Hillary Clinton, chefe da diplomacia americana, do líder da Otan, ministros, autoridades religiosas...

Mas ele está inflexível. "Vidas estão em perigo, mesmo que não o façamos. Se não denunciarmos o islã agora, teremos outra oportunidade daqui a dez anos?"

Wayne Sapp explicou ter recebido, bem como Terry Jones, o pastor da igreja, ameaças de morte. "Por causa dessas ameaças, estamos nos precavendo", acrescentou, mostrando sua arma. "Mas espero que sirva apenas como peso para papel".

"Há muitas ameaças no You Tube", refletiu Stephanie, sua esposa, que também anda bem armada.

O pastor Jones pediu uma autorização para realizar um auto de fé em pleno ar, mas os bombeiros rejeitaram.

A polícia destaca, por sua vez, que não pode interferir enquanto o fogo não for ateado nos livros sagrados, e, ainda, que só poderá aplicar uma multa se o ato for executado.

A porta-voz do xerife do condado de Alachua, Charon Senn, enfatizou que as forças de ordem estavam se precavendo, reconhecendo sua preocupação. "Esperamos uma maior movimentação na igreja no sábado, por isso, estaremos também presentes em maior número. A partir do momento que alguém porta uma arma, mesmo que esteja autorizado, isto se torna uma preocupação para nós".

Antes do anúncio da cerimônia provocativa para marcar o aniversário dos atentados de 11 de setembro de 2001, o Dove World Outreach Center era apenas uma das inúmeras igrejas evangélicas dos Estados Unidos. Criada em 1986, ela pregava uma interpretação estrita da Bíblia e seus paroquianos organizavam atos de caridade para os necessitados.

Em 2001, Terry Jones, ex-gerente de hotel, assumiu a direção com uma retórica inflamada contra o islã, acusando a religião de ter conquistado o mundo e o Alcorão de ser um livro "cheio de mentiras". Sua iniciativa foi denunciada por inúmeros cristãos locais.

O reverendo Larry Reimer, da Igreja Unida de Gainesville, garantiu que Jones e seus fiéis representavam apenas a si mesmos. "Havia 30 pessoas no culto deles semana passada".

Ele, em resposta, organizou uma cerimônia ecumênica de solidariedade para o próximo domingo, durante a qual 25 religiosos de Gainesville, cristãos, judeus e, especialmente, muçulmanos, lerão juntos a textos.

"O problema não está nas religiões, mas sim nos fanáticos fundamentalistas que existem em todos os lugares. Judeus, cristãos e muçulmanos estão mais do que prontos para darem as mãos", garantiu.

A prova está na petição assinada por 2 mil pessoas que pedem a Terry Jones que renuncie ao auto da fé. O documento será entregue a ele na sexta-feira.

Fonte: AFP

Share To:

Eginoaldo

Post A Comment: