Está no Jornal Pequeno:

Sempre que Igreja e Estado misturam as mesmas funções públicas, a sociedade acaba pagando um preço muito alto.

A conseqüência mais visível e drástica da repartição do poder político entre religiões e o Estado foi a Santa Inquisição, da Igreja Católica, que, laborando a venda de indulgências, deu origem à Reforma Protestante de Martinho Lutero e a uma violenta caça às bruxas que vitimou milhares de cristãos na Itália e em outros países. A Reforma Protestante é mãe das centenas ou milhares de denominações evangélicas que hoje se espalham pelo Brasil e pelo mundo mesmo que, historicamente, não concordem com ela.

Volta e meia, entretanto, padres e pastores evangélicos se permitem a disputa do poder político, embrenhando-se no território hostil da troca de favores, fisiologismo, brigas por cargos e até corrupção. Pecados que, pelo menos teologicamente, não fazem parte do universo espiritual de ninguém.

Uma estranha matéria de capa do jornal O Estado do Maranhão aproveita-se dessas aventuras teológico-políticas para, afirmando que o governo Jackson Lago poderá perder o apoio dos evangélicos, demonizar denominações religiosas que permanecem fora da ótica do protestantismo histórico.

A matéria acusa a Assembléia de Deus de se prestar à cooptação de eleitores e desce do púlpito o pastor Fábio Leite, tão sequioso de poder divino quanto de poder terreno, para acusar o governador de insubordinação à Justiça, e dizer que sua postura não condiz com os ensinamentos bíblicos, portanto não deve ser chancelada pela doutrina religiosa. Talvez, nessa visão pastoral, o comportamento de Fernando Sarney, alardeado pela imprensa nacional e internacional, condiga com o dogmatismo sagrado. Tanto que a matéria sugere, inclusive, que a Assembléia de Deus, hoje, concorda com a cassação do governador do Estado e conseqüente ascensão de Roseana ao poder.

O ataque é furioso. A reportagem afirma que a Assembléia de Deus foi um dos principais esteios religiosos da campanha de Jackson Lago, mas com perspectivas de indicar o companheiro de chapa do pedetista. Fisiologismo puro. Num outro trecho diz que o vice-governador, Pastor Porto, e a secretária de Cidades, Telma Pinheiro, são responsáveis pelo aliciamento de pastores e líderes aquinhoados com altos cargos em troca da divulgação do governo nos templos e nos púlpitos. Uma imagem moderna e multifacetada dos vendilhões do templo escorraçados por Jesus.

Mas não pára por aí o processo de avacalhação da Assembléia de Deus e, por analogia, de outras doutrinas. O texto fulmina moralmente os membros da maior denominação evangélica no estado: “os assembleianos declararam-lhe apoio incondicional, fechando os olhos, inclusive, para as práticas de corrupção no seio da campanha, patrocinadas pelo então governador José Reinaldo Tavares”.

Até onde nos consta os membros da Assembléia de Deus não são nem nunca foram corruptos ou coniventes com qualquer prática de corrupção. Mas é de se esperar que pessoas consagradas aos Exus e acostumadas a jantar com a Pomba-Gira Soberana, como Sarney, não tenham qualquer respeito pela inspiração de Deus.

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Eginoaldo

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