No último dia 24 de julho, o bispo Manoel Ferreira, deputado federal e presidente vitalício da Convenção Nacional das Assembleias de Deus do Ministério de Madureira (CONAMAD), promoveu uma reunião em Brasília/DF na qual algumas denominações evangélicas apoiaram a candidatura da sra. Dilma Roussef à Presidência da República.
A candidata governista, na oportunidade, assinou um documento em que “se comprometeu” a não tomar iniciativa para a aprovação de projetos de lei que contrariem os evangélicos, como a descriminalização do aborto, a legalização da união homoafetiva e a criminalização da homofobia.
No entanto, como temos analisado em artigos desde o lançamento do programa de governo do Partido dos Trabalhadores (PT), elaborado após o seu IV Congresso, não é esta a verdade dos fatos.
Com efeito, o referido programa, analisado em quatro artigos por este grupo de estudos, é totalmente contrário ao “compromisso” assumido pela candidata, pois defende a descriminalização do aborto, a criminalização da homofobia, a legalização da união homoafetiva e, além do mais, a virtual proibição de programas evangélicos nos meios de comunicação, já que endossa a tese da proibição de sublocação de horários das emissoras a produtores independentes, meio único pelo qual os programas evangélicos vão ao ar em nosso país (com a honrosa e coincidente exceção da IURD).
O referido programa foi, aliás, o mesmo que a candidata apresentou ao Tribunal Superior Eleitoral ao pedir o registro de sua candidatura, programa que foi, sete horas depois, diante da reação dos “aliados”, substituído por uma versão “light”, onde os temas polêmicos foram suprimidos, “ma non troppo”, pois, como este grupo de estudos também demonstrou em artigo, as ideias básicas foram mantidas, ainda que de forma “cosmética”, ou seja, nas entrelinhas, para não revelar as reais intenções do partido hegemônico da coligação governista.
O “novo” programa não convenceu nem mesmo os “aliados”, tanto que a direção da campanha fez questão de dizer que seria apresentado, brevemente, um “terceiro programa”, contendo as “sugestões de todos os aliados”, algo, aliás, que já estivera constando do introito do segundo programa apresentado.
Logo em seguida, a candidata, a fim de evitar o constrangimento surgido da revelação de suas reais intenções, tratou de iniciar uma caça de apoio de lideranças católicas e evangélicas, a fim de impedir que se erigisse uma barreira fatal para sua candidatura, ante o quadro de empate técnico com seu principal oponente.
Assim, o arcebispo católico de Uberaba denunciou que a candidata foi visitar o Papa para dar uma aparência de ser “católica” (Uma questão de saúde pública? Disponível em: http://www.psaogeraldomajelauberaba.com.br/page41.php Acesso em 28 jul. 2010) (anda inclusive dizendo, por aí, que passou a frequentar a Renovação Carismática Católica, segundo relata notícia da Folha on line, que pode ser acessada no endereço http://www1.folha.uol.com.br/poder/770730-bispo-de-guarulhos-recomenda-a-catolicos-que-nao-votem-em-dilma.shtml Acesso em 28 jul. 2010), ao mesmo tempo em que fez astutas articulações políticas que transformaram o deputado federal Bispo Manoel Ferreira de pré-candidato ao Senado no Rio de Janeiro em coordenador de sua campanha para os evangélicos.
Dentro deste quadro, conseguiu a realização da mencionada reunião, a fim de dar uma “roupagem evangélica” à sua candidatura, repetindo, como bem disse Júlio Severo, “compromisso” assumido pelo presidente Lula em 2002(“Irmã” Dilma Roussef prega para evangélicos. Disponível em: http://juliosevero.blogspot.com/ Acesso em 28 jul. 2010), “compromisso”, aliás, não cumprido, já que Lula assinou medidas como o PNDH-3 e tem sido grande incentivador do movimento homossexual, sem falar nos movimentos pró-aborto, como, recentemente, quando o governo brasileiro luta para que a América Latina adote a descriminalização do aborto, conforme documento aprovado em 16 de julho p.p., na 11ª Conferência Regional da Mulher para a América Latina e Caribe, realizada em Brasília/DF.
Entretanto, como nos mostra Mt.10:26, “nada há encoberto que não haja de revelar-se, nem oculto que não haja de saber-se”.
Dois dias depois da mencionada reunião (26/07/2010), o coordenador do programa de governo da candidata, o assessor especial da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, deu uma entrevista à Folha de São Paulo e, nesta entrevista, mostra-nos claramente que este “terceiro programa” será apenas “para inglês ver”.
Perguntado pela Folha de São Paulo sobre a presença dos temas polêmicos, assim se manifestou o “ideólogo” petista e um dos principais nomes do chamado “Foro de São Paulo” (grupo internacional formado pelo PT que tem a tarefa de tornar a América Latina o núcleo do socialismo mundial): “Só entrarão temas consensuais e com os quais a candidata esteja de acordo. A existência de outros, não consensuais, não significa que sejam proibidos (…).Não vai ser genérico. Queremos que seja um documento curto, porque um documento curto será lido por milhões de brasileiros e brasileiras.” (FLOR, Ana. Presidente 40 Eleições 2010. Temas polêmicos não são proibidos, diz Marco Aurélio. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/po2607201007.htm Acesso em 28 jul. 2010)
Isto significa que a candidata, diante das pressões dos próprios “aliados”, desistiu dos temas polêmicos?
Não, não e não!
Com a palavra o coordenador do programa de governo: “A existência de outros, não consensuais, não significa que sejam proibidos. Eles simplesmente serão abordados no momento devido pela instância devida, que é o Parlamento. O Congresso vai definir, com o perfil que tiver, com uma base governamental que esperamos que seja majoritária.”
Ou seja, faltou combinar com o bispo Manoel Ferreira. A candidata assumiu o compromisso de não tomar a iniciativa de nenhum ponto polêmico, mas isto não é garantia alguma. Pelo contrário, o governo já resolveu que apoiará todas estas medidas no Congresso Nacional, onde espera fazer maioria (na Câmara dos Deputados, já tem maioria e deve conquistá-la no Senado, segundo as projeções dos analistas), para, então, “enfiar goela abaixo” tudo aquilo que o bispo disse que não virá se a sra. Dilma se eleger.
É exatamente esta a tática do partido governista. O deputado federal José Genoíno, ex-presidente do PT, principal responsável pelo fato de o projeto do aborto rejeitado na Comissão de Família e Seguridade Social da Câmara não ter sido ainda engavetado, pois conseguiu o número mínimo de assinaturas para que o projeto fosse a plenário, onde até hoje não foi votado (pois a maioria atual da Câmara é contra o aborto), graças à inestimável colaboração do presidente da Câmara, o deputado federal Michel Temer (PMDB/SP), candidato a vice-presidente da sra. Dilma Roussef, já disse, recentemente, que esta é a estratégia para a aprovação da união homoafetiva no Brasil.
Indagado sobre o futuro do projeto da união homoafetiva no Brasil, após a aprovação dessa medida na Argentina, assim se manifestou o deputado Genoíno, que é coautor de um projeto neste sentido: “Esse é um debate complexo [união homoafetiva, observação nossa], não pode ser feito em ano de eleições. Mas, no ano que vem, tenho certeza de que teremos espaço para levar o projeto a plenário.” (PEIXOTO, Fabrício. Sem lei sobre casamento gay, brasileiros buscam alternativa jurídica. Disponível em: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2010/07/100715_brasil_gay_fp_rc.shtml Acesso em 27 jul. 2010).
Além do mais, como este grupo de estudos já teve a oportunidade de afirmar em outro artigo, o “compromisso” da sra. Dilma é inócuo e enganador. Todas as medidas contrárias à sã doutrina previstos em seu programa de governo retirado do TSE já fazem parte de projetos de lei que estão em trâmite no Congresso e contra os quais os parlamentares do PT não podem votar contra, sob pena de expulsão e perda do mandato, já que fazem parte do programa do partido e foram aprovados em seu IV Congresso.
Assim, a candidata não precisará tomar iniciativa alguma, pois eles já estão no Congresso e são apoiados pelo PT. Um Governo Dilma, assim como o Governo Lula, será plenamente favorável a tais projetos, de modo que o “compromisso” deveria ser outro: o de que, uma vez aprovados, tais projetos seriam vetados pela candidata, uma vez na Presidência da República. Isto Dilma não promete, pois não pode fazê-lo.
Vemos, portanto, como faltou combinar com o bispo Manoel Ferreira (que, por ser deputado federal, sabe muito bem da tramitação destes projetos e de como é inócuo tal compromisso.), antes de se revelar a verdade.
A plataforma de governo da candidatura governista é, assim, reafirmada como contrária à sã doutrina e, agora, assume uma nova conotação: a do engano, a da ilusão, mais um motivo pelo qual não podemos apoiá-la se formos cristãos, pois o engano, o engodo é algo que não faz parte daqueles que servem a Cristo Jesus, que é a própria Verdade (Jo.14:6).
* Gibeá — Grupo Interdisciplinar Bíblico de Estudos e Análises — grupo informal de estudos bíblicos nascido na década de 1990 no corpo docente da Faculdade Evangélica de São Paulo (FAESP) e que hoje tem vida autônoma e esporádica produção.

Fonte: Email recebido pelo Pr. Ângelo
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Eginoaldo

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