Na Saxônia, pastores homossexuais poderão viver com seu parceiro na casa pastoral de uma comunidade em "casos excepcionais". Decisão é polêmica e revela divisão interna.
Durante meses a Igreja Evangélica Luterana da Saxônia se viu envolvida num debate para decidir se pastores ou pastoras homossexuais poderiam viver com seu parceiro na casa pastoral de uma comunidade. No final de semana passada, o Sínodo (parlamento) da igreja chegou a um acordo.
O Sínodo manteve a união entre um homem e uma mulher como o modelo ideal para a vida pastoral, como concessão àqueles que exigiam a manutenção da atual norma, datada de 2001 e que proíbe casais do mesmo sexo de ocuparem a casa pastoral.
Mas, em "casos excepcionais", religiosos homossexuais podem receber a permissão para ocupar a casa pastoral, desde que tenham a aprovação da direção da comunidade, segundo a decisão.
A Igreja Evangélica Luterana da Saxônia tem cerca de 700 pastores e pastoras e, destes, apenas 15 se declararam homossexuais. Segundo o porta-voz Matthias Oelke, ao menos por enquanto a decisão não tem efeitos práticos, pois nenhum desses pastores manifestou interesse em fazer uso do novo direito.
Divisão interna
A Igreja Evangélica Luterana da Saxônia foi a terceira das igrejas regionais que formam a Igreja Igreja Evangélica da Alemanha (EKD, na sigla em alemão) a decidir sobre a questão. As primeiras foram as igualmente conservadoras Igrejas Evangélicas de Baden e de Württemberg, que também decidiram a favor dos pastores homossexuais em "casos excepcionais".
"Foi uma luta de um ano", afirmou o pastor Christoph Wohlgemuth, de Chemnitz, que se mostrou aliviado com a decisão. Ele comparou o processo interno da igreja com o também difícil caminho para assumir a própria homossexualidade. Na Saxônia, um religioso que decidisse assumir sua orientação sexual tinha que estar ciente de que não poderia ocupar a casa pastoral, lembrou. Ele trabalha num hospital e mora numa casa particular. Agora isso pode mudar.
Na opinião do estudante de teologia David Keller, homossexuais nem deveriam ser autorizados a exercer o sacerdócio ou assumir cargos eclesiásticos. Keller está fazendo seu doutorado na Faculdade de Teologia de Leipzig, onde diz apoiar um amigo homossexual que teria decidido viver em celibato.
Segundo um outro pastor de Chemnitz, que enviou uma carta às comunidades da Saxônia, a Bíblia vê "a prática da homossexualidade como uma terrível aberração e um dos piores pecados" a despertar a ira de Deus. Mas a maioria dos opositores dos casais homossexuais evita usar termos homofóbicos ao criticar a decisão.
Keller, por exemplo, diz ser tolerante em relação aos homossexuais, mas que essa tolerância alcança um limite ético na questão das casas pastorais. Ele exige tolerância também para com os cristãos que se sentirem excluídos da igreja se casais do mesmo sexo vierem a ocupar a casa pastoral.
Keller afirma ter uma lista com mais de 7.000 mil nomes de pessoas contrárias à decisão. A Igreja Evangélica Luterana da Saxônia tem cerca de 760 mil membros.
Já para Ralf Michael Ittelmann, do movimento gay-lésbico cristão de Dresden, homossexualidade e cristianismo não são contrários. "Não há nada definitivo sobre esse tema na Bíblia, que fala de práticas específicas, como a pederastia, mas não de parcerias homossexuais."
Fonte: Terra
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