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O número de americanos que se consideram cristãos diminuiu nos últimos 18 anos nos Estados Unidos, enquanto a percentagem de pessoas que declaram não ter religião aumentou, revela um estudo do Trinity College, do Connecticut.São sinais de mudança, detectados ao longo de quase duas décadas, num país onde a religião é estrutural na vida pública – nunca até hoje foi pensável eleger na América um Presidente que não fosse cristão.
Mas os dados do American Religious Identification Survey, elaborado pela primeira vez pelo Trinity College em 1990 e no ano passado pela terceira vez, mostram uma rejeição mais acentuada do fenómeno religioso no seu todo. No entanto, há religiões que crescem, como a católica e a muçulmana, reflectindo mudanças demográficas no país. O crescimento mais significativo é o dos cristãos evangélicos, que estão na base do que é habitualmente designado como a “direita religiosa”.
O número de agnósticos, ateus ou de pessoas que não se identificam com qualquer confissão religiosa duplicou neste período e representa hoje 15 por cento dos norte-americanos, o equivalente a 4,7 milhões de pessoas. Metade serão agnósticos e metade ateus, refere o estudo. Em 1990, eram apenas 8,2 por cento e em 2001, data em que este estudo foi feito pela segunda vez, 14,1.
Por outro lado, o número de americanos que se identificam como cristãos baixou de 86 para 76 por cento. Com o crescimento dos católicos e, sobretudo, dos evangélicos, foram os protestantes “tradicionais” quem pagou a factura desta descida.
Entre as igrejas protestantes, as evangélicas são as mais importantes e equivalem a 34 por cento da população (no total, a influência das igrejas protestantes baixou de 60 para 50 por cento). Parte do crescimento destas igrejas, que seguem a Bíblia de uma forma quase literal, decorre do aumento exponencial dos “novos cristãos”, os “born again christians” que cresceu de 200 mil pessoas em 1990 para oito milhões actualmente.
O crescimento do fenómeno das igrejas evangélicas é um dos factores que tem afastado os americanos do cristianismo, diz Mark Silk, do Trinity College, citado pela CNN.
“Nos anos 1990, a opinião pública americana percebeu que havia uma direita religiosa ligada a um partido político [o Partido Republicano] e isso levou muitas pessoas a seguir noutra direcção”, disse Silk.
O especialista afirma que hoje tornou-se socialmente mais aceitável na América admitir que não se é religioso. “Não é o mesmo que uma pessoa declarar-se um completo pária. A cultura mudou e é mais fácil uma pessoa dizer ‘não, não tenho uma religião’. Este ano, Barack Obama foi o primeiro Presidente a referir-se às pessoas que não têm uma fé no discurso inaugural”.
A tendência para o crescimento de pessoas sem uma religião é a única que é comum a todos os estados norte-americanos, acrescentou Silk. Esta sondagem foi feita junto de 54 mil americanos em 2008.
Outras tendências registadas no estudo são explicadas por mudanças demográficas. É o que acontece com os muçulmanos, que hoje são 0,6 por cento da população (1,3 milhões de pessoas), o dobro do número registado em 1990. Enquanto isso, o número de judeus diminuiu: é hoje de 2,7 milhões (1,2 por cento da população), contra 3,1 em 1990.
O número de católicos aumentou neste período de 46 para 57 milhões, traduzindo o crescimento das populações hispânicas. No entanto, de acordo com Mark Silk, os escândalos de pedofilia envolvendo padres católicos e a cobertura dada a estes pela hierarquia católica nos Estados Unidos, levou muitas pessoas a afastar-se do catolicismo.
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