O sociólogo cristão, Paul Freston, palestrante principal do V Encontro de Renas, fez sua primeira exposição exortando os presentes a uma humildade amorosa.

Após trazer a presença de Renas para o cenário religioso do Brasil, Paul Frenston citou a Rede como um bom exemplo da preocupação social da Igreja brasileira: “Renas é uma das entidades evangélicas mais interessantes. O que Renas representa é muito importante para a igreja brasileira”.

Para ele, essa importância deve vir com a certeza de que esta é uma Igreja repleta de dons e “a maneira como Deus distribui os dons deveria ser o princípio estruturante da Igreja”. Ainda no primeiro ponto, que o preletor chamou de Realismo teológico, ele diz que não há uma lista fechada de dons, eles são infinitos e as pessoas reunidas em Renas estão aqui por possuírem um dom, e parte dos que não estão aqui, não estão porque o dom deles é outro.

Paul Freston cita as listas de dons em Romanos e Coríntios para ressaltar que a diversidade e a universalidade dos dons devem ser vivenciadas com fidelidade e humildade e exortou-nos a sermos mais pacientes e humildes ao pensar que Renas não abarca boa parte da Igreja.

No segundo ponto da exposição, Realismo sociológico, Paul Freston diz que contrário ao crescimento e massificação da Igreja sempre surgem movimentos que nos levam a resgatar a fé. Sociologicamente, podemos afirmar que algumas pessoas, os quais ele chamou de virtuosis, são mais sensíveis aos elementos místicos da religião, que podem ser entendidos como sensibilidade à vontade de Deus, independente da Igreja.

Desejamos que todos sejam tão sensíveis, mas com o crescimento da Igreja, uma porcentagem cada vez maior de pessoas será não-virtuosis. O nosso papel é ser contraculturais dentro da própria Igreja, pois quanto mais a Igreja cresce, menos podemos nos pautar pela média, afirma o preletor.

O último e mais extenso ponto abordava enfim a Humildade amorosa. A partir da parábola de “o rico e Lázaro” no Evangelho de Lucas e utilizando-se de teólogos patrísticos e do escritor cristão Dostoiévski, o preletor ressalta que o pecado do rico não era o ser rico.

Segundo um dos teólogos patrísticos, Ambrósio, seu pecado era não ser misericordioso e orgulhoso. Orgulhoso pois conclui que o rico fala para Lázaro por a mão na água e tocar a ponta da sua língua porque sua língua havia falado muitas coisas orgulhosas. A falta de misericórdia e orgulho são as qualidades exatamente opostas à uma humildade amorosa.

O preletor cita Hilton e Dostoiévski também para nos ensinar sobre humildade e amor: quem pretende construir um edifício alto de virtudes, coloque primeiro um alicerce profundo de humildade. A humildade preserva e guarda todas as outras virtudes.(1)

Meus padres, pergunto a mim mesmo: “Que é o inferno?” Defino-o assim: “O sofrimento por não poder mais amar”. Uma vez, no infinito do espaço e do tempo, um ser espiritual pela sua aparição na terra [falando sobre o rico da parábola], teve a oportunidade de dizer: “Eu sou e eu amo”. [conversa de um dos irmãos Karamázov com alguns padres] (2)

Amor humilde e humildade amorosa. Paul Freston reforça a idéia da humildade como a base para a construção das nossas virtudes e exercício de qualquer outro dom. Exortando-nos a usufruir da oportunidade que nos foi dada por Deus para amar.

Que o pecado do rico de desperdiçar a oportunidade de amar e de ser misericordioso, seja visto como um risco para cada um de nós. “A humildade cheia de amor é uma força tremenda, sem nenhuma outra igual” (3), que esse seja o modelo seja refletido pela Igreja brasileira.

Notas:

(1) E (3) Walter Hilton, A Escala da Perfeição, século XIX
(2) Os Irmãos Karamázov, Livro 6, Capítulo 3

Fonte: Site do Renas
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Eginoaldo

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