As igrejas católicas iniciaram uma ofensiva contra o aborto. Usando vídeos com imagens fortes - com um desfecho descrito como cruel-, e um boneco em forma de feto que fica exposto no altar, o tema da Campanha da Fraternidade deste ano traz o título: "Escolha, pois, a vida".
O responsável pela ação, Dom Antônio Augusto Dias Duarte, um dos seis bispos-auxiliares do Rio, afirmou ter cedido 600 bonecos em resina e vídeos para as 264 paróquias da cidade. Porém, não informou quantas igrejas os utilizaram.
Cenas chocantes
As imagens são chocantes e já fizeram muita gente chorar, estarrecida. Na Igreja de Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, há duas semanas, cem jovens e até o padre se emocionaram. "As meninas choraram muito e depois ficou todo mundo em silêncio", comenta o publicitário Carlos Lins, 26 anos, do grupo jovem da igreja.
Entre os quatro filmes exibidos pela Arquidiocese do Rio desde 10 fevereiro, um deles mostra imagens do pós-operatório de aborto e diversos fetos mortos. Os vídeos só são exibidos durante palestras em igrejas e comunidades religiosas. A ação foi noticiada na edição de ontem do jornal Folha de S.Paulo.
Dom Antônio Augusto ressalta a necessidade de alertar a população. "Estamos num mundo visual", diz o bispo. Ele nega que espectadores tenham vomitado após as palestras. "Vi sair gente chorando e impressionada", pondera.
O religioso não liberou o vídeo para outras entidades. A produção foi feita pela Comissão Arquidiocesana Promoção e Defesa da Vida. "São vídeos que se encontram na Internet", despista.
O bispo-auxiliar afirma que partidários do aborto usam números inflacionados sobre morte na gravidez. "É uma pena que o poder público, mesmo sabendo onde ficam, não fecha as clínicas clandestinas", diz. Segundo ele, o aborto custa entre R$ 700 e 1,2 mil. "A cultura da morte gera uma indústria lucrativa", assinala.
Alcilene Cavalcante, membro da ONG Católicas pelo Direito de Decidir, questiona a falta de opção oferecida pela doutrina católica. Ela lembra que a Igreja proíbe o uso de preservativos, o que poderia reduzir o problema do aborto. Para ela, conservadores conseguiram engavetar o projeto sobre a legalização do aborto ao pôr em discussão o uso de células-tronco em pesquisa. O Supremo Tribunal Federal julgou a questão semana passada, mas adiou a decisão. "Como se fosse possível definir quando se começa a vida. Há várias respostas possíveis", observa Alcilene.
Padres ponderam que o objetivo não é chocar
Na Santa Margarida Maria, na Lagoa, a réplica de feto de 12 semanas fica exposta no altar dentro de um vidro com gel, representando o feto na placenta materna. A imagem tem poucos centímetros e não chega a chocar os freqüentadores.
Para o pároco da igreja, Manuel Manangão, as imagens fortes são importantes para mostrar às pessoas que um feto, por mais novo que seja, é um ser humano. "Nas simulações, os fiéis percebem os pequenos traços do feto, vêem sua forma e observam que aquilo não é só um pedaço de pele que pode ser tirado do ventre. É uma vida", enfatiza o religioso.
Na Igreja de Nossa Senhora da Paz e no Santuário Cristo Redentor, o feto é apresentado nas missas durante o ofertório. Geralmente, um casal carrega o boneco, colocado em uma espécie de manjedoura. Segundo o padre Omar, a réplica é um simbolismo para remeter à importância da vida desde sua concepção até o seu fim natural. "Esse símbolo não choca. As pessoas costumam ficar admiradas com ele porque representa muito bem um feto. A campanha desse ano é em defesa da vida humana", explicou o padre.
Enquanto o casal carrega o feto de resina, Omar costuma ler a oração da campanha da fraternidade deste ano, lançada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Fonte: Terra
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CNBB lança ofensiva contra o aborto em campanha
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