“As famílias recebem água potável (em alguns lugares encanada), se unem para plantação de hortas, recebem visitas de técnicos agrícolas para serem capacitadas no cultivo, higienização da horta e na utilização do sistema hídrico”, entusiasmado, Wostenes Santos, coordenador geral de projetos da ONG ACEV Social, destaca como funciona o Programa “Sertão Sustentável”, que tem mudado a realidade de muitas famílias do semiárido nordestino. Entre os beneficiados, está o seu Teófilo, casado, pai de duas filhas, morador da comunidade Mendes, município de Quixabá, em Pernambuco.
Intercâmbio de agricultores em Conceição (PB)Seu Teófilo já conseguiu, apesar das muitas dificuldades, garantir a formação universitária de Mauba Sueny (23) e Maiara Maria (20). “Pago de faculdade e transporte, R$ 540,00 todo mês para formar minhas filhas”, acrescenta. O dinheiro, bem, o dinheiro vem da comercialização de hortaliças produzidas na pequena propriedade rural. Antes apenas um lugar seco e infrutífero, tendo por cenário uma simples casa, com poucos móveis, e como figurantes da vida uma família, que vê o tempo passar sem esperança de um papel protagonista de cidadãos por falta de recursos para educação, saúde e profissão.Ocupando uma extensão de 841.260,9 Km², o semiárido nordestino caracteriza-se por apresentar reservas de água insuficiente em seus mananciais, o que causa um impacto considerável no período de seca. Este é um fenômeno natural cíclico resultante da escassez de chuvas que produz resultados cruéis para as populações fragilizadas pela desnutrição e pelas doenças próprias das situações de muita pobreza.
Para mudar essa realidade, é que várias ações têm sido demandadas no Semiárido, principalmente, através das organizações não-governamentais, como a ACEV Social. A ACEV tem sua sede em Patos, e existe há 73 anos, mas só há 6 anos formalizou-se como ONG. Estima-se que neste ano de 2011 as ações da ACEV Social irão beneficiar uma média de 200 famílias através do Programa Sertão Sustentável. Que promove desenvolvimento comunitário Rural, partindo da provisão de água (Projeto Poços) para a comunidade e o desenvolvimento sustentável da mesma, gerando por meio dos projetos PlantAÇÃO (agricultura familiar) e 4 Pernas (criação de rebanho de caprinos e ouvinos), sua inclusão produtiva, o que revela o potencial de transformação da realidade socioeconômica da região. Por meio do projeto Agroflorestal o Programa contribui no combate a desertificação do semiárido nordestino em seus diversos aspectos, sob a égide da conservação do bioma e ecossistema da Caatinga do Nordeste brasileiro.
Com a perfuração do poço no sítio Mendes em Quixabá e assistência para o cultivo e comercialização de hortaliças, seu Teófilo viu o sertão florescer, e com ele sua esperança. Toda família contribui com satisfação no trabalho de plantação e cultivo da horta, faz a higienização dos produtos e parte para as vendas na feira local, na qual têm uma estrutura providenciada pelo Programa da ACEV Social. De lá tiram o sustento, a auto-estima, a saúde, a educação, a união familiar, a alegria de viver.
Mauba Sueny sai de sua casa de cabeça erguida com sua irmã; não para partir e não mais voltar em busca de sobrevivência, mas para pegar o transporte que as levará para universidade e as trará de volta para o lar, para seus pais, seu marido, seus filhos, que vêem na mãe uma guerreira, um exemplo a ser seguido. E seu Teófilo, é o pai e o avô mais feliz e orgulhoso do mundo!
A transformação de realidades veio não só para família de seu Teófilo, mas também para vários outros, que antes meros figurantes, agora protagonistas de suas próprias histórias. Como Antonio Florentino de 31 anos, agricultor no sítio Pinheiro em Manaíra na Paraíba. “Tudo foi perfeito para uma comunidade que necessitava de água. Foi a nossa salvação! Se não fosse o Poço não existiria mais ninguém lá, hoje a comunidade só faz crescer. É um trabalho que oferece oportunidade aos agricultores e a todos os sertanejos.”
Iniciativas como essa nos faz perceber, que temos mais valentes do que pensamos no nosso sertão, mais empreendedores do que cortadores de cana. E que a paisagem cinza da seca pode ser verde como uma alface nas mãos de quem ama sua terra.
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Gleydice Bernardes é jornalista e participante do projeto Paralelo 10
Gleydice Bernardes é jornalista e participante do projeto Paralelo 10
Fonte: Paralelo10
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