Ana Amaral/DN

VOCÊ É A FAVOR DO CELIBATO OBRIGATÓRIO PARA OS SACERDOTES?

Sim

“É preciso dizer que a Igreja não impõe o celibato a ninguém. Ele deve ser assumido livremente e com alegria” - Pe. Edilson Soares Nobre Vigário Episcopal para o Clero Arquidiocese de Natal

Existem determinadas questões que nos permitem um posicionamento externando simplesmente um sim ou um não, sem necessidade de explicações. Existem outras que exigem a contextualização e um aprofundamento maior para se compreender os motivos de tal posicionamento. É muito simplório externar uma opinião sobre o celibato sem apresentar algumas justificativas. Quando a minha vocação para o ministério presbiteral foi despertada, eu tinha clareza de que o sacerdote não poderia casar-se. No entanto, eu estava decidido a abraçar a causa, colocando-me inteiramente a serviço da Igreja. Eu sabia que a exigência do celibato para os padres não era uma lei divina, mas uma lei eclesial. Como sei que, em circunstâncias especiais, esta lei poderá ser abolida, mas a Igreja opta pela maior perfeição (o celibato).

O celibato, na Igreja católica, começou no Concílio Regional de Euvira (306), na Espanha, de onde se espalhou para o Ocidente, até que o Concílio do Latrão (1123) o tornou obrigatório.

Apesar de não ser uma obrigação na Igreja primitiva, no entanto, os Apóstolos de Jesus deixavam a convivência familiar para se dedicar inteiramente à propagação do Reino de Deus, - como consta em Lucas 18,28-30: ‘‘Disse Pedro: ‘‘Eis que nós deixamos tudo o que nos pertence para te seguir’’. Ele respondeu-lhes: ‘‘Em verdade vos digo, não há ninguém que tenha deixado casa, mulher, irmãos ou filhos, por causa do reino de Deus, que não receba o múltiplo no tempo presente, e no século que há de vir, a vida eterna”. Assumindo, livremente, o celibato, o sacerdote imita a maneira de viver de Jesus - celibatário, - inteiramente dedicado às coisa do Pai e de seu Reino.

A Igreja foi entendendo melhor o que Jesus desejava: Ele foi celibatário, e a maioria dos Apóstolos também foi. Jesus elogia o celibato, em Mt 19,12ss, e São Paulo o recomenda vivamente, em 1Cor 7, 25ss. O celibato deixa o sacerdote livre de todas as preocupações familiares para se dedicar exclusivamente a Deus, através da comunidade eclesial.

É preciso dizer que a Igreja não impõe o celibato a ninguém. Ele deve ser assumido livremente e com alegria, por aqueles que têm essa vocação especial de entregar-se totalmente ao serviço de Deus e da Igreja. É uma graça especial que Deus concede aos chamados ao sacerdócio e à vida religiosa. Assim, o celibato é um sinal claro da verdadeira vocação sacerdotal.

O último Sínodo dos Bispos sobre a Eucaristia, confirmou o celibato e o Papa Bento XVI expressou isso na Exortação Apostólica pos-sinodal ‘‘Sacramentum Caritatis’’. Disse o Papa: ‘‘O fato de o próprio Cristo, eterno sacerdote, ter vivido a sua missão até ao sacrifício da cruz no estado de virgindade constitui o ponto seguro de referência para perceber o sentido da tradição da Igreja Latina a tal respeito. Assim, não é suficiente compreender o celibato sacerdotal em termos meramente funcionais; na realidade, constitui uma especial conformação ao estilo de vida do próprio Cristo... Em sintonia com a grande tradição eclesial, com o Concílio Vaticano II e com os Sumos Pontífices meus predecessores, corroboro a beleza e a importância duma vida sacerdotal vivida no celibato como sinal expressivo de dedicação total e exclusiva a Cristo, à Igreja e ao Reino de Deus, e, consequentemente, confirmo a sua obrigatoriedade para a tradição latina. O celibato sacerdotal, vivido com maturidade, alegria e dedicação, é uma bênção enorme para a Igreja e para a própria sociedade’’(n.24).

Eu, na condição de celibatário, sinto-me livre dos pesados encargos de manter uma família, educar filhos, trabalhar para manter o lar; podendo assim dedicar-me totalmente ao Reino de Deus.

Não

“Hoje digo com tranquilidade que para glória de Deus e o bem da Igreja o celibato deve ser opcional” - Padre Fábio Santos

O celibato é uma das mais belas expressões de consagração a Deus e de disponibilidade para o serviço às pessoas. É presente em quase todas as grandes religiões do mundo. Só para se ter uma idéia, o celibato é mais antigo no budismo e hinduismo e até mesmo nos grupos dos assênios judeus contemporâneos de Cristo.

Para nós cristãos na Igreja Católica, o celibato para os sacerdotes é uma manifestação da radicalidade evangélica do compromisso com Deus, a Igreja e a Humanidade. Sem sombras de dúvida é um dos tesouros da tradição cristã ocidental.

Jesus no Evangelho já elogiou o celibato: ‘‘há os que não se casam por amor ao Reino dos Céus’’ (Mt 19,12a). Também emenda da dificuldade de compreender essa forma de vida: ‘‘quem puder compreender que compreenda’’ (Mt 19,12b). Igualmente o apóstolo São Paulo sugere em uma de suas cartas: ‘‘É melhor servir ao Senhor em castidade’’ (1 Cor 7,8). A partir dessa fundamentação bíblica é incontestável para nós o significado e a importância do celibato. Ademais das Sagradas Escrituras, temos a autoridade da Tradição da Igreja, que desde os primórdios sempre contou com consagrados celibatários até se tornar, entre os cristãos do ocidente, uma obrigação para os sacerdotes católicos de rito latino, segundo a ordem do Magistério da Igreja.

Porém, aqui nesta opinião dominical do ‘‘Ponto-contra-Ponto’’, a pergunta não é sobre o celibato em si, mas a sua obrigatoriedade. Com todo respeito e consentimento ao que manda o Magistério Eclesial hoje, digo com tranqüilidade para a glória de Deus e o bem da Igreja, que a exemplo, de sacerdotes católicos romanos de rito oriental - para não dizer de outras Igrejas ou Comunidades Eclesiais - o celibato deve ser opcional e não obrigatório. Deste modo a minha resposta é NÃO!

Para fundamentar com mais consistência apresento alguns tópicos.

- A Igreja é o Corpo de Cristo ressuscitado. A Igreja não é um corpo de um defunto. Por isso, ela é um corpo vivo, dinâmico e não estático. O celibato não foi uma obrigação na Igreja Primitiva e tão pouco para os atuais católicos de rito bizantino, melquita, ucraniano, maronita e outros. Assim como em um tempo era opcional e depois se tornou obrigatório, é possível também que deixe de ser obrigatório e passe a ser opcional, conforme a dinâmica da própria Igreja, que em relação à disciplina e à liturgia já passou por enormes mudanças entre 1962 e 1965, durante o Concilio Vaticano II. O celibato não é dogma e sim uma disciplina que pode e deve ser mudada.

- O celibato não faz parte da essência do sacerdócio. Ou seja, é uma disciplina da Igreja como mencionei acima. Não sendo essencial, ele pode e deve ser mudado.

- Conforme a Constituição Pastoral Gaudium et Spes do Vaticano II, ‘‘é dever da Igreja investigar a todo o momento os sinais dos tempos, e interpretá-los à luz do Evangelho; para que assim possa responder, de modo adaptado em cada geração’’. Um dos sinais dos tempos em relação ao celibato é, sem sombras de dúvidas, a possibilidade de abrir o chamado ao sacerdócio a homens casados provados e maduros. Esta santa opinião está na grande maioria do Povo de Deus, além dos grandes cardeais, como Dom Paulo Evaristo e Dom Carlos Maria Martini, além de arcebispos da envergadura de um Dom Hélder Câmara e dos atuais presidentes das conferências dos bispos da Alemanha e da Inglaterra. Não seria essa questão do celibato opcional um sinal dos tempos a respeito da qual a Igreja tem o dever de investigar, interpretar e responder? Por fim, quero deixar mais claro que esta minha opinião em nenhum instante significa uma desobediência ao Magistério da Igreja.

Boca do povo

‘‘Eu sou a favor. Acho que tem que ter um respeito, e por isso o padre não deve casar. Se a pessoa procura isso para sua vida, a dedicação religiosa, já deve ir sabendo quais são as obrigações para ser um padre. Se o padre puder casar, ele deixa de ser um exemplo religioso para as pessoas. Isso é uma coisa que vem de tradições passadas. Nesse sentido, eu sou mesmo um conservador’’

Paulo Anderson Rodrigues Barbosa, 24, vendedor, Cidade da Esperança

‘‘Eu não concordo que os padres não possam casar. Acho que eles são pessoas normais. Tudo bem que eles têm que tentar se aproximar de Deus, mas também não precisa ser tão igual a ele assim. Os padres também deveriam ter o prazer da carne. Como ele é um ser humano, o padre também está sujeito aos pecados, por isso eu acho que eles deveriam ter o direito de se casar’’

Marcelle Teixeira Oliveira, 22, estagiária, Nova Parnamirim

‘‘Sou a favor do celibato obrigatório. Acho que se os padres não são casados, eles dão mais atenção aos critãos, aos assuntos da igreja, dão mais assistência. Se os padres fossem casados, isso atrapalharia no setor financeiro, porque ele teria que dar assistência aos filhos e sustentar a família. Os padres, sendo solteiros, se dedicam mais a cuidar das pessoas carentes’’

Fernanda Wanderley Vidal, 25, vendedora, Cidade Satélite

‘‘Não. Acho que os padres deveriam poder casar. Todas as pessoas têm o direito de ser feliz um dia. Não que precise ser casado para ser feliz, todo mundo pode ser feliz com o que tem. Mas eu acho que eles poderiam casar. Não tenho preconceito com relação a isso. Acho que se os padres não podem casar, talvez isso pode atrapalhar a felicidade deles’’

Thales de Sousa e Silva, 17, estudante, Ponta Negra

‘‘Eu sou contra. Eu acho que os padres deveriam ter liberdade de escolha. Ninguém tem direito de mandar na vida dos outros. Cada um tem que fazer o que bem entender. É como a liberdade de ir e vir. Além disso, na Bíblia não está dizendo que é proibido casar, nem que se alguém se casa não pode ser padre. São as pessoas mesmo que inventam essas coisas’’

Meciana Silva, 26, promotora de vendas, Bairro Nordeste

‘‘Acho que os padres deveriam se casar. É como o ditado que diz que o homem nasceu para a mulher e a mulher para o homem. Se Deus fez o homem e a mulher, foi para eles se casarem. Acho que se o padre fosse casado, isso não atrapalharia a vida religiosa dele. Todos nós queremos ter uma família. Quando a gente fica velho, quem cuida da gente são os filhos’’

Fonte: Diário de Natal
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Eginoaldo

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