A vingança falou mais alto. E o primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi vestiu, politicamente, uma camisa de sete-varas, com reflexo no segundo desdobramento das eleições administrativas que se aproximam.

Vingança é prato que se come frio, ensina a sabedoria popular.

Berlusconi resolveu comer quente, a revelar a sua imensa vaidade e a arrogância de matriz neo—fascista, sempre exibida quando contrariado.

Mal saiu do episódio do escândalo referente a desfrutamento de “garotas de programa”, Berlusconi resolveu dar, por tabela, um troco na Igreja. Para isso escolheu o jornalista Dino Boffo.

Melhor explicando. Berlusconi resolveu desmoralizar a publicação “Avvenire”, dos bispos católicos italianos e controlada pela fortíssima Conferência Episcopal Italiana (CEI). O Avvenire, pelo seu diretor de jornalismo Dino Boffo, criticara o escândalo Berlusconi-garotas de programa. Lógico, sob o prisma dos valores ético-morais.

Na vingança foi usado o diário Il Giornale. O Giornale pertencente à família Berlusconi e é administrado pelo irmão do premier. A edição de 28 de agosto saiu com matéria de capa e a seguinte manchete: “O Supermoralista foi condenado criminalmente por Molestação Sexual”.

O moralista, segundo o Giornale, era o jornalista Dino Boffo, do Avvenire e das redes de televisão e de rádio da Cei. O artigo se referia a um sentença criminal condenatória de Dino Boffo, com pena pecuniária, já paga, superior a 500 euros.

Pela matéria-montada, que se referia a fato ilícito ocorrido na cidade de Terni, o jornalista Dino Boffo, homem da mais absoluta confiança da Igreja e a ocupar posto-chave reservado a um leigo, tinha tido em 2002 um relacionamento homossexual com homem casado. E, pelo seu celular, molestava a esposa do parceiro de relacionamento, objetivando a separação familiar.

A Cei, comandada pelo cardeal papável Angelo Bagnasco, hipotecou solidariedade a Boffo.

O papa Ratzinger que já afirmara ser leitor assíduo do Avvenire quando do episódio Berlusconi-garotas de programa, telefonou a Bagnasco. Isto para expressar toda a sua estima e confiança. Em outras palavras, solidarizou-se com o Avvenire e, por tabela, com o jornalista Boffo, com o qual estivera pela última vez, numa reunião, em 23 de abril de 2005.

As mídias italianas, com exceção as de propriedade e em mãos de Berlusconi,– num absoluto “conflito de interesses”–, colocaram Berlusconi no centro da impostura, que distorceu fatos processuais. Na verdade, Boffo perdeu o celular, que foi utilizado para molestar a esposa de um morador de Terni.

Na quinta feira, dizendo-se massacrado por inverdades publicadas, o jornalista Boffo deixou as direções do Avvenire e dos canais de rádio e televisão. Continua forte, no entanto. Ou seja não abriu mão de funções maiores, em especial no conselho de administração e editorial.

O premier Berlusconi, que afirma não ter tido interferência no episódio, ontem, abotoou, após encontro com o respeitado presidente da República, Giorgio Napolitano, definitivamente, a referida camisa de sete-varas. Disse que a grande imprensa italiana não consegue divulgar informações verdadeiras, a insinuar ter o Giornale informado corretamente a verdade sobre o processo Boffo.

Os juízes de Terni, –e por ter o processo corrido em segredo de Justiça–, autorizaram a divulgação de apenas alguns atos processuais, que, efetivamente, não comprometem o jornalista Boffo.

Outro papável e ex-presidente da Cei, Camilo Ruini, rebateu a matéria e falou da sua estima e confiança em Boffo, que, como frisado acima, fora defendido pelo cardeal Bagnasco, presidente da Cei e “manda-chuva” do Avvenire.

Quando ocorreu o escândalo de Berlusconi com as “garotas de programa” e a adolescente que o chamava de “papi”, a Igreja ficou em má posição. Sem nunca ter sido desmentido, Berlusconi se apresentava como um soldado Vaticano na luta contra pesquisas com células troncos, casamentos gays, etc. As publicações do Avvenire, no entanto, indicavam a desaprovação da Igreja, no episódio das gandaias berlusconianas.

Berlusconi, apesar dos escândalos com as “garotas de programa”, conseguiu vitória nas eleições regionais, mas sentiu um abalo nas européias, onde imaginava sair com o grande vencedor eleitoral e se habilitar para se tornar a maior liderança popular européia.

PANO RÁPIDO. No momento, o embate é direto com a Igreja, que Berlusconi, para atacar, atirou farpas, com a mão do gato Il Giornale, no poderoso jornalista Boffo.

Para analistas, desta vez Berlusconi foi longe demais. O eleitorado católico é imenso e fiel ao comando das Igreja. Nas paróquias, as hostilidades contra Berlusconi serão ecoadas.

Não bastasse, até em jogo do Milão, onde manda e desmanda, o premier Berlusconi tem de sair 15´minutos antes do término. Tudo para fugir às vaias e hostilidades dos ultra (torcida organizada).

Sua opção por Ronaldinho, e as ordens de como deve se posicionar taticamente no campo, não estão dando certo. E fica claro que o brasileiro Leonardo, colocado por Berlusconi como técnico, é um mero laranja.

Fonte: http://maierovitch.blog.terra.com.br

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Eginoaldo

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