Depois de dois anos de maturação, debates e estudos, a Paróquia São Felipe, da Igreja Episcopal Anglicana de Goiânia, Goiás, implantou a Pastoral Homossexual. “Não podemos receber Jesus em nossas vidas se não estivermos prontos a receber os pobres e marginalizados desse mundo”, justificou o pároco local, reverendo Elias Mayer Vergara.

A proposta da pastoral é muito simples. Em reuniões semanais, o grupo de apoio promove estudos bíblicos que tratam da opção de Jesus pelos excluídos. Depois, o grupo abre espaços para que cada participante possa contar a sua história, como se deu o processo de “sair do armário”. “O caminho de quem está no processo de se assumir homossexual fica menos doloroso quando encontra um grupo de apoio”, destacou Vergara.

A criação da Pastoral Homossexual é um desdobramento da resolução da Conferência de Lambeth, maior encontro internacional da Comunhão Anglicana e que se reúne a cada dez anos, de que as igrejas episcopais do mundo escutassem os homossexuais e buscassem entender a sua realidade, explicou o pároco da pequena congregação de Goiânia, que tem oito anos de existência.

“Não fomos nós que escolhemos os homossexuais, eles nos escolheram”, disse Vergara em entrevista à ALC. Ele lembrou que Jesus acolheu o diferente, o que é fácil do ponto de vista discursivo, mas que na prática nem sempre é assim. “Estamos experimentando na Paróquia a inclusividade radical do Evangelho”, anunciou, mencionando que nela convivem pessoas que cumprem pena judicial, mães solteiras, prostitutas, deficientes físicos, doentes mentais, sem-teto, pobres, classe média, doutores, negros e brancos.

Todo grupo excludente tem muito a dizer à Igreja, que muitas vezes não quer escutá-lo. “Não estamos preparados para amar os gays, pois eles ameaçam a nossa masculinidade ou a nossa feminilidade. E se o ser macho ou fêmea está sendo ameaçado é porque essas categorias nunca foram assim tão cristalinamente definidas. Quando alguém se assume gay, isso perturba a sociedade e seus membros individualmente”, analisou o pároco anglicano.

Em carta dirigida aos pais de filhos especiais – doentes mentais, superdotados, deficientes físicos e homossexuais – Vergara animou os pais a lutarem contra todo tipo de preconceito presente na sociedade e na igreja. Estudos mostram que a homoafetividade não é uma opção do indivíduo, mas é constitutiva do mesmo. “Assim sendo, ninguém pode ser responsabilizado por ser homossexual”, assinalou.

Pai de quatro filhos – três meninos e uma menina – casado há 22 anos e sacerdote da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil por 25 anos, Vergara explicou que, em alguma medida, “todos nós temos um gay com quem nos relacionamos, e ele está dentro de nós. Ou nós o assumimos, ou nós o rejeitamos, ou nós convivemos com ele numa boa, sem que ele nos transtorne”.

O pároco anglicano de Goiânia incentivou pais de filhos especiais a jamais abandonarem os filhos, “que precisarão de vocês como uma fonte de reconstrução de suas vidas ao assumirem sua condição homossexual”. A Paróquia São Felipe está disposta a enfrentar a tensão que o tema da sexualidade humana provoca no seio da Igreja, sem deixar de acolher os homossexuais e a apoiar pais de filhos especiais.

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Eginoaldo

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