As imagens que você vai ver podem parecer de ficção. São cenas de pessoas brutalmente julgadas, segundo os rituais, as leis e as penas impostas pelo tráfico. Os condenados - entre eles, jovens e mulheres - são torturados até quase a morte. Até que, de repente, as histórias tomam um outro rumo, com a chegada de um pastor. Foi ele quem gravou as negociações e cedeu, ao Fantástico, apenas as imagens que não permitem a identificação dos locais onde foram gravadas, nem dos traficantes envolvidos.

Dentro de uma casa, uma mulher está prestes a morrer.

"Que isso, rapaz? Que isso? Que isso, rapaz? Que isso? Não faz isso, não! Não faz isso, não, em nome de Jesus!", diz o pastor Marcos Pereira da Silva.

Uma pessoa que acompanha o pastor mantém a câmera ligada. Dois traficantes estão armados.

A mulher que está enrolada com fita é acusada de um ato imperdoável para os traficantes.

“Eles dizem lá que ela era X-9, informante da polícia. E chegou ao meu conhecimento que havia uma pessoa amarrada para ser morta. Tentamos achar, até que encontramos onde seria o cativeiro", conta o pastor.

Um dos bandidos aponta a pistola na direção da mulher e dispara.

"A arma fez ‘tec’ e a bala não saiu", relata o pastor.

"E ali eu orei. Manifestou o demônio e eles caíram. Está amarrado em nome de Jesus! E consegui tirar a moça, com a minha equipe, e salvamos aquela vida”.

Na semana passada, o jornal O Globo mostrou o julgamento de um rapaz, de 15 anos, que tinha sido condenado à morte pelos traficantes e torturado, mas que também foi salvo com a chegada do pastor Marcos.

O julgamento foi presenciado pelo repórter Mauro Ventura, que depois fez o relato em uma impressionante reportagem.

"A comunidade, quando sabe que tem alguém amarrado para ser morto, o morador liga para a igreja, dizendo: ‘Tem uma pessoa aqui que eles querem matar’”, conta o pastor.

Outra gravação mostra um rapaz, de 16 anos, com marcas de tortura e um corte profunda na cabeça.

O rapaz tinha sido condenado à morte pelos bandidos, porque roubou na favela. Também foi salvo pelo pastor, que usa sempre a mesma argumentação.

"Nós os conscientizávamos que não era para matar, porque quando uma pessoa mata uma pessoa, sai espírito maligno daquele corpo e entra no autor do crime”.

“Vamos entrando pela favela adentro, não somente nas comunidades, quando tem alguém amarrado, mas em rebeliões também, que eu participei, que foram dez rebeliões, no estado do Rio de Janeiro”.

O pastor se refere a rebeliões que só acabaram depois da chegada dele, por exigência dos presos.

Ele e outros pastores da igreja que fundou, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, costumam visitar delegacias e presídios, onde promovem o que eles chamam de sessões de exorcismo.

O pastor Marcos diz que já salvou centenas de pessoas que tinham sido condenadas pelo tráfico.

"De 91 para cá, eu tenho umas 500 ou mais pessoas que nós tiramos da morte. Mas já houve caso de eu não conseguir resolver e a pessoa morrer”, diz.

Algumas das pessoas resgatadas pelo pastor são levadas para uma fazenda, bem distante, em Nova Iguaçu, outro município da Baixada Fluminense. O lugar é tido como o centro de recuperação da igreja. O pastor faz o que chama de desintoxicação do físico e do espírito.

Você vai ver imagens de homens que passaram pelo centro de recuperação, depois de serem julgados, condenados e torturados pelo tráfico. Wakson Santos, 22 anos, furtou um celular dentro da comunidade onde morava.

"Lá o próprio juiz é o traficante. O que ele bater o martelo, o que ele falar está decretado. Os traficantes me abordaram, iam carbonizar o meu corpo. Levei cinco tiros. E a pena do erro na comunidade é a morte”, relata Wakson.

Émerson Sá, 23 anos, era traficante e foi apanhado roubando cocaína do bando. As duas mãos tinham marcas de tiros.

"Eu fui amarrado em um poste com as mãos para trás. E ali eles começaram a me dar pauladas, garrafadas. E eles: ‘Você ainda vai sofrer muito mais. Você está em nossas mãos!’", conta Émerson.

Severino da Silva, 40 anos, foi encontrado no porta-malas de um carro.

"Eu fui acusado de ter agarrado uma garota. Ia morrer. Teve uma hora que eu já tinha entregado os pontos. Eu falei: ‘Entrega esses documentos para a minha família, para a minha família receber a pensão’”, diz.

“Eu prefiro não falar a comunidade, até mesmo, não que eu estou preservando a bandidagem. É porque, infelizmente, eu ando de um lado para o outro e não é bom nem para mim, nem para a minha igreja, nem para a minha equipe”, argumenta o pastor.

“Decidi começar a registrar esses momentos, porque o objetivo é mostrarmos o antes e o depois. A pessoa machucada, amarrada, e depois mostrar ela de terno e gravata para a comunidade. Botar um telão, faz o evento e mostra”, explica.

Mas veja o que acontece com um homem. É um agente penitenciário que foi reconhecido por traficantes, dentro de uma favela. Ele tem marcas de tortura por todo o corpo. Mal consegue andar. Só que, em vez de ser levado para o hospital, é conduzido para a igreja, lotada.

Segundo o pastor, de cada dez pessoas que são salvas por ele, uma se converte e vira fiel da Assembléia de Deus dos Últimos Dias.

Em nenhuma das imagens que recebemos da igreja aparecem carros ou homens da polícia.

"A entrada da polícia em uma comunidade se torna até, talvez, pior, eles executam a pessoa mais rápido, porque a polícia pode chegar até o ponto. Então, muitas vezes, eu não comunico por isso", diz o pastor.

Como ele consegue ser aceito, entrar em lugares em que o estado não entra?
“Olha, eu posso dizer que é pela pureza do trabalho, que desde o momento que você não tem nenhum tipo de envolvimento, você consegue entrar em todas as áreas”.

Como ele consegue ter o contato, mas não ter o envolvimento?

“Existe uma passagem que o sábio Salomão nos apresenta que o lírio nasce em um pântano. E com toda aquela imundície do pântano, ele não se contamina”.


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Eginoaldo

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