A Igreja Universal do Reino de Deus adotou uma estratégia tão inteligente quanto arriscada em resposta à mais recente ação do Ministério Público de São Paulo, que acusa o seu fundador e outros oito dirigentes de formação de quadrilha e lavagem de dinheiro, entre outros crimes graves.

A IURD entendeu que a melhor defesa no front público é o ataque. Dessa forma, no lugar de responder às acusações, esforça-se em explicar a suposta causa das denúncias. Por meio de seu braço de mídia, a Rede Record, concentra-se em um alvo principal, a Rede Globo – e desde o domingo (16) também ataca um dos quatro promotores do caso.

Embora a primeira reportagem sobre a recente denúncia do MP tenha sido publicada na “Folha de S.Paulo” e outras informações sobre o caso tenham merecido generoso destaque em “O Estado de S.Paulo” e na “Veja”, a IURD mira abertamente apenas a Globo, neste momento.

Aos espectadores da Record, a igreja esforça-se em caracterizar os problemas que enfrenta na Justiça como resultado tanto do seu sucesso como instituição religiosa quanto do progresso da emissora. Ambas são medidas por um mesmo critério de mercado – de um lado, o crescimento do número de fiéis e templos; de outro, a subida da audiência. De caráter nitidamente publicitário, essa operação funde igreja e emissora numa coisa só, iguala fiéis e espectadores e transforma todos em vítimas da Globo.

Não deixa de ser curioso que, em seu ataque, a igreja rememore pecados clássicos da Globo, como a edição enviesada do debate entre Collor e Lula em 1989 e a cobertura envergonhada do comício das Diretas, na praça da Sé, em 1984.

A manipulação ocorrida nos dois eventos é muito semelhante à operação que visa convencer o espectador que a IURD e a Record são alvo da Globo por conta do crescimento de ambas.

O risco desta estratégia é referendar, junto ao próprio público, aos seus funcionários e para a sociedade, o que inclui os seus anunciantes, a ideia de que a Record é apenas um braço a serviço da IURD. Além dos problemas legais que essa associação representa, a consolidação de uma ideia de “tevê do bispo” pode, no médio prazo, colocar a perder o projeto de transformar a emissora num “player” competitivo em um mercado que vê com bons olhos a necessidade de mais concorrência na televisão brasileira.

Ao relatar, ao longo de intermináveis 10 minutos, a denúncia do MP na edição de terça-feira (10) do “Jornal Nacional”, a Globo deu à IURD o mote de sua estratégia de defesa. Como medir, em minutos ou páginas, a importância de uma notícia? Um dos poucos critérios de que dispomos é o da comparação. Neste caso, não me recordo de uma organização individual, como a Igreja Universal, que tenha merecido tanto tempo do “Jornal Nacional” em uma mesma edição.

É fato que existe uma disputa entre as redes Globo e Record. Como toda confrontação entre duas empresas, o alvo visível é o mercado e, como em toda competição no campo da mídia, briga-se por poder. O esforço que ambas as emissoras têm feito publicamente nos últimos dias no sentido de exibir depoimentos de políticos em seus noticiários dá uma pálida ideia da guerra travada nos bastidores nesse campo. E sugere que, a pouco mais de um ano de eleições gerais no País, há novos, variados e ainda confusos rearranjos de forças na área.

Em seu sétimo dia, que não parece ser o dia do descanso, a disputa excita a imaginação de blogueiros e tuiteiros de diferentes matizes políticos e religiosos. De todas as teorias e conspirações que prosperam na rede, a mais injusta me parece ser a que procura responsabilizar jornalistas que trabalham em uma ou outra empresa pelos desígnios de seus chefes (jornalistas, empresários ou bispos). É verdade que, em nome da consciência, um jornalista sempre pode se recusar a fazer determinado tipo de trabalho, mas essa é uma decisão difícil de tomar, pelas implicações pessoais envolvidas, e não me considero no direito de julgar ninguém por isso.

Fonte: Último Segundo

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Eginoaldo

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