da Folha Online

O bispo de Barra (BA), d. Luiz Flavio Cappio, retomou nesta terça-feira a greve de fome contra o projeto de transposição das águas do rio São Francisco. A diocese da Barra confirmou que o religioso está fazendo "jejum e oração" na igreja de São Francisco, em Sobradinho (BA), às margens do rio.

D. Cappio quer que o governo suspenda as obras de transposição iniciadas em junho pelo Exército.

Lula Marques/Folha Imagem
D. Cappio é contra o projeto do governo para transportar as águas do rio São Francisco
D. Cappio é contra o projeto do governo para transportar as águas do rio São Francisco

Esta é a segunda vez que d. Cappio protesta contra o projeto de transposição do governo federal. Em 2005, o religioso realizou uma greve de fome de 11 dias contra a transposição.

D. Cappio encerrou o primeiro protesto no dia 6 de outubro de 2005 após um encontro com o então ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Jaques Wagner, atual governador da Bahia pelo PT.

Na ocasião, Wagner entregou ao religioso uma carta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O governo propôs na época o prolongamento do diálogo sobre o projeto.

Procurado pela reportagem, o Ministério da Integração Nacional, responsável pelo projeto de transposição, ainda não se posicionou sobre o protesto de d. Cappio.

Lamento

O ministro Geddel Vieira Lima (Integração Nacional), responsável pelo projeto da transposição, lamentou a atitude do bispo e disse que pediu ao governador Jaques Wagner que coloque médicos à disposição de d. Cappio.

"Lamento profundamente que d. Cappio tenha enveredado por esse caminho", afirmou o ministro, ao ressaltar que a posição do bispo não é a mesma da igreja.

Geddel disse que assim que tomou posse, em março deste ano, telefonou para d. Cappio convidando o religioso para "uma conversa" sobre o projeto do rio São Francisco, mas o ministro disse que não teve resposta.

"Também percorri todo o rio, da nascente à foz, e quando cheguei a Barra [onde fica a diocese de d. Cappio], o bispo não estava. Estamos abertos ao diálogo sempre, mas à imposição, não. [...] O diálogo não pode impedir que políticas públicas sejam implementadas", comentou o ministro.

Como católico praticante, Geddel entende que o papel da igreja e de d. Cappio é aconselhar e pastorear os fiéis, "mas eles não têm legitimidade para governar". "Não trabalhamos com atitudes que tangenciam a chantagem emocional", reagiu.

Obras

Estimada em R$ 4,5 bilhões, até 2010, as obras serão dividas em 14 lotes. Somente neste ano, serão investidos R$ 483 milhões, além de R$ 247 milhões, que serão utilizados em projetos de revitalização, como tratamento de esgoto de municípios próximos ao rio, replantio de matas e recuperação de nascentes, em Minas Gerais, Estado que responde por aproximadamente 70% das afluências do rio

O projeto de transposição divide a região Nordeste. Bahia, Sergipe, Alagoas e Minas Gerais --Estados que são chamados de "doadores" das águas do rio-- são contrários às obras. Por outro lado, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará --que serão receptores das águas transpostas-- defendem a liberação da licença ambiental para que o projeto tenha início.

O rio São Francisco nasce em Minas Gerais e cruza o Nordeste pelos Estados da Bahia, Sergipe, Pernambuco e Alagoas. Pelo projeto de transposição, canais a serem construídos levariam água para o interior de Pernambuco, para o Ceará, para a Paraíba e para o Rio Grande do Norte.

Share To:

Eginoaldo

Post A Comment: