POR SÍLVIO MEDEIROS - Sou contra o aborto. Não creio que a vida humana possa ser disposta por ninguém, e a natureza definitivamente não me conferiu esse direito. Se existe uma nova vida humana, esta não me pertence. Agora, isso não me tira a capacidade de admirar a defesa do aborto feita pelo governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, ao afirmar que a fecundidade dos moradores da favela é uma fábrica de marginais.
Não, não concordo com ele, sua tese não se sustenta e já foi refutada em vários artigos primorosos*. Contudo ela é de uma coerência e de uma sinceridade espantosa com as raizes do pensamento pró-aborto, deveria servir de exemplo aos simpatizantes da causa. Fazia tempo que ninguém advogava pelo aborto com tamanha transparência acerca das próprias motivações. Motivações que dividem no próprio meio pró-aborto e fazem muitos até exclamar:
-- Aborto sim, mas não por esse motivo!
Mas oras, é justamente por esse motivo que o aborto como conhecemos hoje existe! Quem é partidário dessa prática e se escandalizou com a tese de Cabral, é porque talvez desconheça a história desse movimento e os motivos que levam organizações pró aborto, a serem o que são.
A frase do governador “Isso é uma fábrica de produzir marginal” [1] se referindo a procriação dos moradores da favela soa cruel mas faz todo o sentido na perspectiva dos articuladores iluministas do controle de natalidade e da disseminação do aborto em nível mundial, como Malthus, Charles Darwin e seu primo Francis Galton, Herbert Spencer, Margareth Sanger, para citar alguns. Basta comparar.
Vejamos a ótica de Charles Darwin, pai da teoria da evolução, inspirado na obra de Malthus que declarava que a natureza quer selecionar os mais fortes e extinguir os mais fracos: "Entre os selvagens, os fracos de corpo e mente são logo eliminados. Nós, civilizados, fazemos o possível para evitar essa eliminação; construímos asilos para os imbecis, os aleijados, os doentes; instituímos leis para proteger os pobres... Isso é altamente prejudicial à raça humana" [2].
Agora vejamos Herbert Spencer, criador do darwinismo social, doutrina que não admite menos dotados prejudicando os mais dotados: "Todo o esforço da natureza é para se livrar desses e criar espaço para os melhores... Se eles não são suficientemente completos para viver, morrem, e é melhor que morram... Toda imperfeição deve desaparecer“ [3].
Também Francis Galton, defensor do favorecimento da procriação apenas entre os ricos: “O que a Natureza faz de forma cega, lenta e impiedosa o homem deve fazer de modo previdente, rápido e bondoso” [4].
E por fim Margareth Sanger, discípula fiel das mentes acima, fundadora da Planned Parenthood, uma das maiores organizações promotoras do aborto no mundo (no Brasil sua filial se chama BemFam, investigado pelo MP por ensinar mulheres o aborto "higiênico" e tem sede em Campinas): "Os seres sadios devem procriar abundantemente e os ineptos devem abster-se... este é o principal objetivo do controle da natalidade" [5] e "Os serviços de maternidade para as mulheres dos bairros miseráveis são prejudiciais para a sociedade e para a raça. A caridade não faz senão prolongar a miséria dos inaptos" [6]
Esta interessante fina sintônia de Darwin a Sérgio Cabral se trata de um único princípio que une e coage em torno da legitimidade do direito de tirar a vida: o pragmatismo. A vida humana importa na medida em que interessa e a dignidade é um valor atrelado da utilidade. Por isso se um filho de uma mãe solteira numa favela terá menos chances de sucesso, ou maiores chances de se enveredar na criminalidade pela incompetência de gestão social do Estado, aborte. Essa vida não tem valor, poderá ser um ônus para a sociedade. Também se esterilize, pois deste ventre nada sairá de bom.
Forte demais? Mas essa é a idéia. E essa é a verdadeira discussão iniciada há mais de cem anos pelas mentes citadas acima, ainda não encerrada: quanto vale uma vida humana? A dignidade humana é intrínseca, ou não, depende de circustâncias externas e juizos de valor? É sagrada ou funcional? Se sagrada nada importará, este novo ser humano merecerá a manutenção de sua vida, propriedade tão e somente dele; agora, se funcional, então "a melhor coisa que poderemos fazer por um membro infantil de uma família grande", usando as palavras de Margareth Sanger, "será matá-lo" [7]. E é natural que seja assim mesmo, pois depois da morte intra-uterina institucionalizada e banalizada o passo consequente é a promoção da morte extra-uterina.
Não se trata de teoria da conspiração, mas de verdade documentada: existe um laço de união inseparável e ininterrupta entre a prática do aborto como a conhecemos hoje e os ideais de seleção de natalidade propostas por essas pessoas e ratificadas pelas Conferências de Belgrado, Bucarest, México, Rio, Copenhague, Pekin e Istambul, mas nós só a notamos quando notórios como Sérgio Cabral deixam escapar. Invocações de direito ao corpo são apenas dilatações esperadas de uma brecha aberta na inviolabilidade humana lá atrás.
Por isso há que se afirmar sem medo: ser favorável ao aborto é sim estar de acordo que a vida de um concebido favelado seja questionável. E ainda que atualmente este parecer se vista de roupagens românticas com os eufemismos “saúde reprodutiva” e “interrupção voluntária da gravidez”, a prática de tais expressões revelam um único fato: estamos a executar bebês, nossas mãos estão se sujando de sangue, nossas mães estão se mutilando, marcando suas psiques para sempre enquanto caminhamos para um suicídio coletivo. Não precisariamos disso.
Se Sérgio Cabral, Lula, Temporão desejam uma discussão madura e ampla acerca do aborto, então começo por mim mesmo: se a vida humana é mesmo violável, o que me impede de eliminar livremente aqueles que me desagradam, na classe política, por exemplo?
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