SÃO PAULO - Pelo menos oito dos 13 deputados que encaminharam à presidência da Assembléia Legislativa pedido para analisar a cassação do deputado Carlos Giannazi (Psol) têm algum tipo de ligação com igrejas evangélicas expressas em seus currículos ou nas proposições apresentadas à Assembléia Legislativa.
Segundo Waldir Agnello (PTB), que lidera o grupo, não há intolerância em relação à comunidade GLBTT (gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais) ao pedir a punição do parlamentar por não ter impedido o show do transformista Henrique Pereira da Rocha , Nick Peron, na Assembléia Legislativa. Para ele, a 'questão é moral'.
- Houve um desvio de conduta do transformista ao se apresentar com trajes mínimos. Da parte dos responsáveis pelo evento, houve quebra de decoro. Poderíamos ter ido direto ao conselho de Ética ou à Corregedoria contra o deputado. No entanto, resolvemos apresentar o documento à presidência da Assembléia - ressalta Agnello.
Além de Waldir Agnello, subscreveram o documento contra Giannazi os deputados Analice Fernandes (PSDB), André Soares (DEM), Campos Machado (PTB), Gil Arantes (DEM), Gilmaci Santos (PRB), João Barbosa (DEM), José Bittencourt (PDT), José Bruno (DEM), Lelis José Trajano (PSC), Celino Cardoso (PSDB), Orlando Morando (PSDB) e Otoniel Lima (PTB).
Agnello afirmou que a Assembléia Legislativa é a uma 'casa do povo', onde são respeitadas as manifestações, mas 'desde que não haja excessos'.
O presidente da Assembléia, deputado Vaz de Lima, também evangélico, terá 60 dias para analisar a questão.Perguntado sobre apresentações de passistas de escola de samba na Assembléia, que também sambam seminuas, Agnello afirmou que não tem conhecimento do fato.
Esta não é a primeira vez que Waldir Agnello toma posição contrária à comunidade GLBTT. O petebista é autor de um projeto de lei (1.068/2007) que pede a rebogação da Lei nº 10.948, de 2001, que impõe penalidades à discriminação em razão de orientação sexual (homofobia).
O deputado argumenta que o projeto, que vigora desde 2001, é inconstitucional.
- Sou veementemente contra qualquer tipo de discriminação, mas também sou contra o privilégio de alguns perante a outros na mesma intensidade. Na Constituição, todos somos iguais - finaliza Waldir Agnello, que integra a Igreja Quadrangular.
O deputado Gilmaci Santos (PRB), um dos signatários do documento e pastor da Igreja Universal do Reino de Deus, ressalta que as normas foram quebradas, tanto por Carlos Gianazzi quanto pelo transformista Nick Peron. Gilmaci diz que algo precisa ser feito para que fatos como esse não 'manchem' a imagem da Casa.
- Foi um fato de grande repercussão. Recebi vários e-mails e muitas pessoas me procuraram para comentar esse absurdo - diz Santos.
Para Murilo Moura Farno, diretor da Parada GLBTT, o pedido para punição de Carlos Gianazzi é um exagero. A ONG Parada GLBTT, segundo ele, é suprapartidária e não participou diretamente da atividade ou da organização da apresentação do transformista na Assembléia.
- Entendemos que é um exagero. Há comportamentos ou condutas mais graves e, estas sim, são falta de decoro parlamentar. Não uma apresentação artística. Há a violência, a corrupção. Nos tempos atuais, quem vê o carnaval vê gente com muito menos roupa ainda, e o carnaval não deixa de ser uma expressão legítima - afirma Farno.
Farno lamenta que deputados queiram derrubar a lei que pune a discriminação por orientação sexual em São Paulo.
- Lamento isso, é uma lei que demonstra o grau de civilidade da cidade. Qualquer município que tenha uma lei que proteja suas minorias é civilizado - afirmou.
Farno negou que tenha alguma movimentação em curso para levar a Parada GLBTT para a Assembléia Legislativa. Este ano, a Parada será no dia 25 de março
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