Construída num dos principais acessos à favela de Acari, a igreja terá paredes que contarão com concreto, ferro e pedra na estrutura. Isso porque o templo fica constantemente no meio do fogo cruzado entre traficantes e policiais e os irmãos precisam se atirar ao chão.
"Já contamos com a proteção divina e agora teremos paredão blindado em toda a lateral de 35 metros de comprimento", tranqüiliza o pastor Odalirio Luís da Costa, responsável pela igreja.
Craque na estréia
O novo templo da Igreja Congregacional de Acari fica na Rua Guaiuba, sua construção está concluída e a inauguração ocorrerá amanhã. O pontapé inicial vai ser dado pelo ex-jogador de futebol e agora pastor Jorginho, tetracampeão nos Estados Unidos em 1994. Auxiliar do atual técnico da Seleção, Dunga, Jorginho, porém, só contará com a proteção dos céus no culto. A blindagem deve ficar pronta apenas no mês que vem.
Feitas de tijolos e emboçadas, as paredes que serão blindadas são a da frente (de 15 metros de comprimento) e a lateral que fica do lado de beco, áreas mais vulneráveis às balas. Elas ganharão capa de 10 centímetros de espessura, formada por concreto 40 (o mais forte), pedra e ferro. O portão de ferro também contará com uma proteção a mais: atrás dele haverá muro com igual blindagem. Risco só na cobertura de telhas galvanizadas e forro. Não haverá reforço contra as balas que caírem do céu. Aí só Deus mesmo.
A igreja funcionou inicialmente na Avenida Pastor Martin Luther King Jr., mas se mudou mais para o interior da favela. Foi para um terreno grande de 15 por 35 metros, comprado por R$ 20 mil. O único porém: fica na linha de tiro. As marcas dos confrontos - buracos de fuzis - estão no portão e nas paredes de casebre que foi improvisado para abrigar os cultos e já no novo templo.
A construção da modesta igreja com a blindagem - idéia de Odalirio - incluída custará R$ 30 mil. Para o pastor, o reforço significará mais segurança para os cultos, que chegam a ser interrompidos quando ele ouve os primeiros fogos (alerta dos traficantes sobre a chegada da polícia). "Pessoal, fique calmo. O Caveirão está passando devagar aí na rua", avisa. É difícil manter o controle da situação.
Especialista alerta: proteção não é total
As paredes reforçadas levarão mais segurança para os fiéis, mas não serão capazes de segurar os disparos de todos os tipos de armas. "Um tiro de fuzil calibre 12 pode perfurá-las. Os mais usados no Rio são o 7.62 e o 9 mm, de menor impacto. Mas é necessário fazer cálculos de distância e posição para se ter uma idéia exata da proteção que se oferece. Existem muitas variáveis", explica David Fernandes, diretor da Previne Security, empresa de consultoria em segurança e sistemas integrados.
O pastor Odalirio argumenta que os tiros não atingem em cheio as paredes. "As balas raspam na lateral do muro", ressalta ele, que duvida que o templo seja invadido por traficantes em busca de proteção durante os tiroteios. "Eles ficariam encurralados no interior da igreja", observa Odalirio.
Ex-sargento pára-quedista, Odalirio está há mais de 20 anos em Acari, um dos lugares mais miseráveis do Rio, segundo levantamento da ONU do início da década. Trabalha entre traficantes, viciados e pobres. Participou da fundação da Fábrica de Esperança, dirigiu o Centro dos Direitos Humanos do bairro e faz pregações pelos becos e ruas com um carro de som. "Eu queria estar na igreja da Barra, mas Deus quer que eu esteja aqui", afirma.
Em dezembro, O Dia mostrou que o comércio de drogas na favela rende aos traficantes em torno de R$ 2 milhões por mês. Nos anos 90, a polícia prendeu 250 pessoas que estavam na fila para comprar pó na comunidade. As imagens da prisão marcaram a época.
Relato: 'pregação com carro de som'
"Nosso ataque vai ser em cima dos viciados e traficantes que queiram sair dessa vida. Faço pregação com carro de som. Eles param na própria boca e pedem hino. Eles choram. Se a metade aí dentro tivesse oportunidade, sairia dessa vida. Eu paro onde todo mundo cheira e falo: 'Você roubou seus pais para vir cheirar?'. Eu faço o confronto. Um rapaz ganhou Gol zero da mãe e veio de Volta Redonda: 'Pastor, cheirei o carro todo em três dias'. O que mais dói é você se sentir incompetente", disse o pastor Odalirio Luís Costa.
Fonte: Jornal O Dia
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Igreja evangélica no Rio irá blindar as paredes
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